Este texto é um comentário anonimo escrito em uma das postagens do blog. O texto relata lembranças de um capoeirense na sua adolescência e juventude, quando morava e estudava aqui. Reconhece a importância que alguns professores tiveram no seu amadurecimento como pessoa, e lamenta por Capoeiras ignorar muitos dos seus filhos, e por muitos destes não conseguirem cortar o cordão umbilical com a terrinha.
É uma pena que o autor do texto não tenha se identificado.
DE UM FILHO PARA OS PAIS
Praça João Borrego |
Lembro de ter sido acolhido por muito tempo naquela casa, dentro dela percebi que teria que ir para outro lugar onde pudesse conhecer mais e mais, esse lugar foi a escola. Lembro de fugir com meu irmão dela também, pois não suportava ver suas lágrimas cair pelo rosto, minha segunda experiência na escola foi maravilhosa, era o Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, lá tive muitas dificuldades, não é fácil crescer sendo diferente, ou em uma família diferente, mas cresci entre os espinhos e por muito tempo me fiz espinhos também, buscava a perfeição tanto na proteção quanto na agressão, fui convidado a me retirar desta escola, errei, aprendi e como consequência cresci.
Minha chegada em uma escola nova foi maravilhosa, adorava a tia Azilma (acho que é esse o nome) nunca esqueci de seu rosto.
O José Soares de Almeida, foi maravilhoso, lá amei e odiei pessoas, como todo ser humano, estudei, briguei e brinquei, mas não vivia sem aquele lugar e sem meus amigos do fundão.
Ah, deixei lá também minhas marcas ainda por ter muitos espinhos, lembro da professora Gerusa, que me desafiou e a enfrentei, fui parar na secretaria para falar com a Diretora Rita, ela sabia o que eu queria, queria ser ouvido, e ela me ouviu, ainda hoje a tia Gerusa habita em minhas lembranças, lembro dela ao dizer em meu segundo ano do ensino médio (nessa época já tinha me desculpado e a amava como professora) "você um dia vai ler sobre um autor chamado Freud", li e gostei.
Aprendi não com a rigidez de alguns professores graças a um desses desisti de minha 7ª para série para jogar vídeo game (risos), neste vídeo game conheci um dos maiores homens dessa casa, o professor Zezinho, com muita seriedade e empenho nos estudos nunca consegui ver um professor sério para não querer tirar um sorriso de seus lábios, aprendi também com os professores que deixaram cair a mascara, os livros e as lágrimas, contra isso não tinha argumentos, eu não conhecia aquilo, me ensinaram ser humano, ah, tem ainda o professor Agostinho que percebeu que certas datas não trazem felicidades a todos.
Hoje, ainda não sou tão grande, mas alguns de meus passos já são vistos por onde passei, hoje tenho poucos espinhos, os longos cabelos da adolescência me restam poucos, encontrei vários irmãos, alguns ainda estão do mesmo tamanho, outros parecem que voltaram a ser criança e outros cresceram muito rápido, mas ainda lembro com muito carinho da minha primeira professora, a tia Sandra, lembro da tia Iraní, que me fascinou quando entrei na sala de aula de meu irmão e a vi ensinar tantas coisas difíceis.
Lembro de muitas coisas que por muito tempo estiveram escondidas em minha mente, uma das coisas que não lembro é dos pais dessa cidade reconhecerem os próprios filhos. Pais que não vêem seus filhos, já que esses cresceram mais do que seus olhos podem alcançar, portanto, pais cegos, não escutam os gemidos de seus filhos com frio por falta de calor humano e de fome de afeto e reconhecimento, e mudos pois suas falas não tem som ou sentido.
Os filhos, são irmãos que brigam por migalhas mesma quando existe uma imensidão de árvores com frutos fora das muralhas dessa casa, não é culpa destes, isso é apenas reflexo da imaturidade de seus pais.
Desejo que meus irmãos cresçam, na vida é necessário matar pai e mãe em nossas mentes para que um dia possamos ser pai ou mãe, e não seja necessário matarmos pai e mãe de verdade.
Assinado: um amigo, irmão e filho desta casa chamada Capoeiras.