Por Altamir Pinheiro
Era uma terça-feira, dia primeiro de outubro de 2013, quando o cantor e compositor brasileiro, Roberto Carlos, recebeu uma triste noticia: o ator italiano Giuliano Gemma sofreu um acidente de carro nas proximidades de Roma e morreu após dar entrada em um hospital na cidade de Civitavecchia. Giuliano Gemma era o ator preferido do REI, inclusive eram amigos... Pois bem!!! Indo de cabeça ao túnel do tempo, em 1969, no quarto do Hotel Glória-Praia de Copacabana, no Rio, Roberto descansava das filmagens que estava fazendo do seu filme O DIAMANTE COR-DE-ROSA, quando de repente, não mais que de repente, foi armado um serviço de segurança especial, pois Giuliano Gemma tinha saído do seu hotel em que estava hospedado para conhecer pessoalmente, Roberto Carlos. Já que, embora nunca tivesse conversado tête-à-tête com o cantor, Gemma se lembrava de Roberto como vencedor do Festival de San Remo, na Itália.
Eis o diálogo apurado pelas revistas da época, como Grande Hotel, Veja, Manequim, Noturno e tantas outras a respeito deste encontro: “PIACERE, CARO AMICO!!!” (“Muito prazer, amigo”, foram as primeiras palavras de Giuliano). RINGO, NON AVREI MAI IMAGINATO UM INCONTRO COME QUESTO!!!” (Ringo, jamais imaginei um encontro desses!!!, respondeu Roberto). A seguir, escrevia a imprensa da época, eles brindaram com champanha. Nice estava encantada. Na Itália e no mundo inteiro, milhões de mulheres suspiram por Giuliano Gemma, o Ringo dos filmes de bangue-bangue. Êle tem 31 anos, olhos castanhos, 1,84 de altura e 72 quilos. Adorou as praias do Rio e prometeu voltar logo que fôr possível.
“A única coisa que estranhei foi o calor. Durante esta curta permanência no Rio de Janeiro tomei mais de 5 mil copos de mate gelado. Foi o único problema. As amizades que fiz, as pessoas e os lugares maravilhosos que conheci contribuíram para que esta viagem fôsse uma das mais agradáveis que já fiz. Espero voltar breve e vou aguardar, na Itália, a visita de Roberto Carlos e Nice. Êles querem conhecer minha filha de apenas três meses de idade”. A partir desse momento eles se conheceram e ficaram amigos. O famoso ator dos faroestes italianos ficou encantado com a cordialidade dos brasileiros e com as músicas de Roberto e pretendia utilizá-las na trilha sonora de seu próximo filme.
No imaginário do público, ele é eterno RINGO ou o pistoleiro de O Dólar Furado. Dono de uma carreira iniciada aos 18 anos e com mais de 100 longas no currículo, Gemma ficou conhecido por encarnar o personagem RINGO em clássicos do chamado “western spaghetti”, um tipo de filme de faroeste muito popular na Itália, nos idos de 1960. Um ator carismático, cujo talento o tornou inesquecível entre os brasileiros que puderam vê-lo no Brasil em 1969 quando foi convidado para ser jurado no festival Internacional da Canção no Maracanãzinho onde teve um encontro histórico com o rei da música brasileira Roberto Carlos que na época filmava “O Diamante Cor-de-Rosa” e em 1986 quando Gemma veio em férias e chegou até marcar presença no Programa “DISCOTECA DO CHACRINHA” da TV Globo.
Segundo consta nos escritos ou acervo do cinéfilo paulista Edelzio Sanches, Uma Pistola para Ringo (1965) foi o filme que lançou Giuliano Gemma como cowboy do faroeste. Nesse ano, durante as filmagens, o ator conheceu Natália Roberti , com quem se casou e teve duas filhas: Giuliana e Vera. O casamento durou até 1995, quando sua esposa veio a falecer. Os filmes de Ringo conquistaram a todos e o ponto máximo do sucesso foi "O DÓLAR FURADO". Excelente western com uma bonita trilha sonora composta por Gianni Ferrio.
Nos cinemas do interior brasileiro o público aguardava ansioso pelas sessões de finais de semana, para ver o Ringo se defrontar contra o vilão mexicano, interpretado pelo espanhol Fernando Sancho. Pois se o filme tinha Giuliano Gemma, o sucesso era garantido.
O Dólar Furado foi o ápice com seu tema marcante. Com uma trilha sonora instrumental com o famoso título (O dólar Furado) foi tão marcante que chegou a entrar nas paradas de sucesso do Rádio Brasileiro, disputando os primeiros lugares com Elton John, The Beatles, Rolling Stones e outros artistas de sucesso na época. O tema de O Dólar Furado está para o bang bang como Ave Maria está para a igreja católica. Segundo uma pesquisa curiosa, as gravações mais vendidas durante a semana de julho de 1966, em todo o Brasil, era a seguintes: Tristeza, de Jair Rodrigues; O Coruja, Deny e Dino; TEMA DE O DÓLAR FURADO("Se tu non fosse bella como sei". - Se Você Não Fosse Tão Bonita Como Você É). Mamãe Passou Açúcar em Mim, Wilson Simonal; Quero Que Vá Tudo Pro Inferno, Roberto Carlos e Dio Come Te Amo com Gigliola Cinquetti ou Rita Pavoni.
Passados quase 50 anos do fim do ciclo do westerns-spaghettis, O Dólar Furado (Um Dollaro Bucato) conquistou um incalculável público novo para o faroeste, inclusive no Brasil, público que passou a ter Giuliano Gemma como um de seus maiores ídolos. Assim como havia sido Burt Lancaster na década anterior. Antes de ficar conhecido como Ringo, Giuliano Gemma teve papéis em filmes como BEN HUR, com Charlton Heston, e O LEOPARDO, com o francês Alain Delon. Quem acompanha DIRETORES de filmes faroestes há de perceber que, o italiano Sérgio Leone está para o western-spaghetti assim como John Ford está para o faroeste norte-americano. Para tristeza dos fãs, sua última aparição no cinema aconteceu em “PARA ROMA COM AMOR”, um dos filmes dirigidos pelo ator, cineasta e roteirista WOODY ALLEN na Europa e que chegou às telonas em 2013, logo após a sua morte.
Nenhuma outra canção emoldura melhor a imagem inesquecível de Giuliano Gemma que a composição de Gianni Ferrio para o western "O DÓLAR FURADO" (Un Dollaro Bucato). O que o leitor vai fazer a seguir é viajar na garupa de um alazão chamado passado. Até porque o passado nos completa... Nos dá alegria de verdade... Um passado que teima em está presente... No vídeo abaixo ao som desse marcante tema musical relembramos o saudoso mocinho que era o rei do gatilho em seu filme de maior sucesso.