Marco Damiani, Brasil 247 – No céu, o governador Miguel Arraes (1916-2005) certamente está aprovando o mais recente movimento político de seu neto, o presidente do PSB, Eduardo Campos. Ícone das esquerdas, Arraes era um craque dos bastidores, onde combinava como ninguém doses de radicalismo e conciliação, sempre visando o seu próprio fortalecimento. Um osso duro de roer. Campos acaba de fazer o mesmo.
Ao retirar o PSB do governo Dilma Rousseff, Campos teve o cuidado de não sair atirando na presidente. Foi, ao mesmo tempo, um gesto radical, de rompimento, mas em seguida atenuado pelo discurso de que isso não significa uma ida automática para a oposição. Em tudo interessado em ser candidato a presidente em 2014, o governador de Pernambuco também já demarcou que só tocará nesse assunto, oficialmente, dentro do ano eleitoral – e não antes.
Guardando distância do governo Dilma, Campos continua a se movimentar tranquilamente no terreno da oposição. Ao mesmo tempo em que mantém um diálogo permanente com o presidenciável tucano Aécio Neves, o líder do PSB vai montando seus próprios palanques regionais, de olho no exemplo da igualmente presidenciável Marina Silva, que concorreu a presidente em 2010 pelo PV.
Na última eleição, Marina acumulou mais de 20% dos votos, tornando-se, porém, uma liderança nacional sem estruturas locais. Campos quer alçar seu nome, hoje ainda forte, apenas, na região Nordeste, mas sem cair no mesmo erro de não plantar raízes na maioria dos Estados.
RETIRADA ESTRATÉGICA - A silenciosa batida em retirada do PSB do governo pode ser vista como um gesto de ousadia conservadora, bem ao estilo de seu avô. Ousadia pelo gesto em si, conservador por não ter feito disso um carnaval fora de época, com ataques à administração federal e sua chefe. Além do estilo familiar, Campos, é claro, observa que a popularidade da presidente está em alta e que só teria a perder com o disparo de críticas mais duras.
Agora de uma posição de independência em relação ao governo federal, o PSB de Campos valorizou o passe de seu presidenciável e a própria legenda, que passará a ser mais procurada, livre de amarras, para inúmeras conversas de composição com outros partidos. Até mesmo o PT, que dias atrás tinha caciques convidando os socialistas a saírem de seu campo político, terá de se dobrar ao partido, inclusive para não deixar que os adversários se fortaleçam em alianças com a legenda.
Caso complete seu atuais planos e se lance mesmo candidato a presidente em 2014, Campos conseguirá um palanque eletrônico nacional para expor suas ideias. Elas passam, até mesmo, pela dinamização da reforma agrária, num discurso que já vai agradando ao MST. Com criatividade e experiência, o governador de Pernambuco começou a garantir para si mesmo um lugar confortável na disputa do próximo ano. Sem ser favorito, tem potencial de crescimento e tudo a ganhar no futuro.