Por Ricardo Cappelli
O PT encomendou uma pesquisa sobre a corrida eleitoral em Pernambuco. Nela, a petista Marília Arraes lidera a disputa ao Palácio do Campo das Princesas ao lado do Senador Armando Monteiro (PTB). O atual governador, o socialista Paulo Câmara, ocupa a terceira posição.
Quem conversou com Lula não tem nenhuma dúvida: Marília será candidata. O ex-presidente diz que a vereadora é uma jóia de seu partido. Tem seus motivos. O PT pernambucano vivia um momento difícil até a neta de Arraes despontar.
A reeleição do senador Humberto Costa é uma incógnita. João Paulo, ex-prefeito do Recife, deixou a legenda e filiou-se ao PCdoB.
Como disse outro dia Aldo Rebelo, presidenciável do Solidariedade, os cientistas políticos brasileiros não têm vida fácil. Aqui, “a política desafia a ciência”. Como a prima de Eduardo Campos, neta do saudoso Arraes, uma família tradicional da política pernambucana virou a grande novidade da eleição?
Marília saiu do PSB e rompeu com Eduardo por discordar do afastamento do PT. Enfrenta agora os caciques petistas que querem voltar ao ninho socialista.
Uma candidata anti-establishment, que representa “o novo”, que enfrenta a família, a elite partidária, e faz tudo isso no PT, o partido que ficou 13 anos no poder central, caracterizado pela grande mídia como o velho. É a política desafiando a ciência.
Uma questão que parece regional está no centro dos desdobramentos nacionais. Dois partidos da esquerda, PSB e PCdoB, tem seu núcleo dirigente atual egresso de Pernambuco.
O PDT trabalha de olho nos socialistas. Fez um movimento nacional importante. Abandonou a reeleição do petista Fernando Pimentel em Minas e montou uma chapa em torno do ex-prefeito Márcio Lacerda (PSB) ao Palácio da Liberdade. Foi um golpe no PT que, temendo a formação de um núcleo em torno de Ciro, reagiu.
O encontro do PT para decidir sua tática em Pernambuco foi adiado para o final de julho. Faz seu jogo articulado com o “Lula ou nada”.
Ao adiar a decisão inevitável por Marília, mantém uma espada sob a cabeça de Paulo Câmara. Aposta que o adiamento poderá bloquear um eventual movimento nacional dos socialistas com o PDT.
Entrevista recente do petista e ex-ministro Edinho Silva não deixa dúvida sobre o que seu partido fará. O PT vai para eleição defender Lula. O resultado das eleições majoritárias está em segundo plano. Nesta lógica não faz sentido retirar uma candidata que lidera as pesquisas e será um palanque para defesa do ex-presidente.
É aí que entra o PCdoB. Luciano Siqueira, vice-prefeito do Recife e dirigente comunista histórico, criticou publicamente a posição do PT. Para ele, defender Lula não pode ter contradição com uma estratégia que viabilize a vitória da esquerda nas eleições.
O PCdoB é um aliado antigo de Arraes e Eduardo Campos, e se mantém fiel ao governador Paulo Câmara. Teve embates duros com o PT por decidir se manter no governo estadual mesmo quando o PSB optou por apoiar o impeachment de Dilma.
A deputada federal pernambucana Luciana Santos é a presidente nacional da legenda.
Renildo Calheiros, político hábil e brilhante articulador, ex-deputado federal e ex-prefeito de Olinda, é outro expoente do núcleo comunista que atua no estado.
O PSB tem sua raiz, história e tradição maior em Pernambuco. Como reagirá ao lançamento de Marília? Condicionará qualquer decisão à posição do PT, adiada para o final de julho? Uma vez que descartou o apoio nacional ao PT e ao PSDB, vai para Ciro ou para neutralidade? Qual impacto esta decisão terá na definição dos comunistas?
Aconteça o que acontecer, uma coisa é certa: nos pouco mais de 60 dias que restam até o dia 15 de agosto, data limite para o registro das chapas, o desfecho da esquerda brasileira, numa das eleições mais importantes da história, passará por Pernambuco.