Por Altamir Pinheiro
A bem da verdade, em nossa singela e fervorosa América Latina, Roberto Carlos nunca foi um Rei. Simplesmente, ele é um Deus de carne e osso. Dirigimo-nos ao nosso ídolo maior de todos os tempos, tratando-o como uma divindade na esfera da musicalidade, do romantismo e da sua religiosidade. Só que, no âmbito pessoal ele é um déspota de carteirinha, um ilustre paladino na luta ao direito à privacidade, pois tem pavor as liberdades individuais e a imprensa de um modo geral, com exceção da Globo, claro!!! Devemos considerá-lo como o REI DA CENSURA ou quem sabe, MÃOS DE TESOURA. Esses autênticos apelidos fazem jus ao seu notório comportamento antidemocrático. Portanto, no campo do romantismo musical ele é um libertário nato; um anarquista em toda sua forma de ser, de compor e de cantar, o chamado liberou geral; porém, se tivesse sido um político teria enveredado pelo caminho do absolutismo e da tirania. Trocando em miúdos: um ditador de mãos cheias...
Deixando um pouco de lado a implacável perseguição que o rei fez a discutida obra ou ao famigerado livro, e igualmente proibido, ROBERTO CARLOS EM DETALHES, de Paulo César Araújo, ele também foi intolerante, austero e rígido quando questionou o uso de sua imagem em um trabalho acadêmico, "Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude", de Maíra Zimmermann; e processou o escritor Ruy Castro por causa de um perfil sobre sua vida publicado em 1983 na revista "Status". Mas foi um livro escrito em 1979 pelo seu ex-melhor amigo que despertou a ira real pela primeira vez. Trata-se de Nichollas Mariano, pois, como nos retrata o colunista Zé Teles, Nichollas, seu ex-mordomo, chegou a ser condenado a um ano e meio de prisão (não foi para a cadeia por ser réu primário).
O jornalista Tiago Dias nos revela todo o desenrolar pós lançamento do volumes escrito por Nichollas, intitulado "O Rei e Eu", livro de memórias de seu ex-"faz tudo", Nichollas Mariano, que prometia vender milhões e revelar um personagem além do cantor romântico que o tornou conhecido e amado. Em sua primeira incursão na justiça, Roberto reuniu advogados, Polícia Federal e oficiais de Justiça e confiscou 70 mil exemplares da obra. No livro há um trecho que revela o seguinte: "Não sei exatamente o porquê, mas o Roberto nunca foi muito exigente em termos de mulheres. Isso trocado em miúdos quer dizer: qualquer uma que aparecesse e ele tivesse a fim no momento servia. O segredo da perna era preservado nesses casos relâmpagos simplesmente porque ele não tirava a roupa".
Espécie de mordomo de Roberto Carlos, Nichollas Mariano era DJ da Rádio Carioca quando conheceu Roberto nos anos de 1960 e tornaram-se amigos. Mariano era praticamente uma sombra de Roberto. Com confiança total e absoluta por parte do cantor, o mordomo escoltava Roberto quando o astro queria ir ao cinema e servia tanto de babá quanto de agente financeiro. "O Roberto, nessa época, era ingênuo, um garoto. O Mariano cuidava até da triagem das garotas que iam subir no hotel. Mas quando a Nice [Rossi, primeira mulher do cantor] entrou na vida do Roberto, ela obviamente queria ocupar espaço no mundo empresarial, além do casamento. “Daqui pra frente, não tem mais garotas, eu cuido das roupas...”, e o Mariano ficou acuado, tentou recuperar espaço. E aconteceu o conflito.
No pré-lançamento do livro criou-se uma expectativa tamanha que foi preciso que o autor, meses antes do seu lançamento, através do marketing em rádios e revistas deixasse os fãs em polvorosa. "Íamos todos os dias à Rádio Globo. Fizemos um concurso para os ouvintes escolherem o título do livro", relembrou o escritor. Na carta aberta que escreveu a Roberto, e que inicia o livro, Mariano diz: "Desculpe, amigo, se alguma coisa aqui não lhe agrade. Mas acho que fui, além de tudo, sincero e honesto. Para todos que lhe curtem sem lhe conhecer, para aqueles que veneram o ídolo, o semideus intocável, distante e imaterial, projetado pela máquina, esse livro só vai engrandecer a tua imagem tornando-a mais humana, mais palpável, mais próxima. Por que escrevi esse livro? Porque acho que lhe devo isso. Mais do que ninguém, eu sei que você é gente.
Mais uma vez o crítico de música Zé Teles nos revela que em um texto de estilo claudicante, pontuado por erros de português e de revisão, Nichollas Mariano não poupa nada nem ninguém, conta pormenores da prótese de Roberto Carlos, e minúcias das brigas entre ele e Nice, a primeira mulher do cantor, pivô de sua demissão da corte real. Porém, na última quinta-feira(15) no programa MOVIMENTO de Ednaldo Santos na Rádio Jornal do Recife, Nicholas falou ao vivo com o locutor e disse com todas as letras que em 1984, há precisamente 35 anos teve seu último encontro com seu antigo patrão, quando se abraçaram e trocaram figurinhas e, aparentemente, sem mágoas ou ressentimentos.
Claro que a inimizade desses dois camaradas deixa todo mundo em dúvida nesse mar de mistério que sempre acompanhou o dia a dia do rei. Na verdade, o “CARA”, Roberto Carlos, que é uma “BRASA, MORA”, tem um verdadeiro pavor a quem tocar no assunto de sua deformidade física, que é o aleijão de sua perna direita que fora decepada a baixo do joelho na linha do trem quando ele tinha 6 anos de idade. Não à toa foi rompida uma amizade de muitos anos com seu mordomo e amigo por ele ter flagrado Roberto Carlos, no quarto, mudando uma prótese. Aliás, Nichollas Mariano nunca foi mordomo de Roberto, e, sim, seu procurador e agente financeiro. Mas, como de costume, nesse tipo de episódio, a culpa é sempre do mordomo...