Por Altamir Pinheiro
Eu já sei que tu vais casar com outro / Meu desejo é que tu sejas bem feliz / Amanhã, eu estarei lá na igreja / Pra Provar-te o quanto eu te quis. - Levarei muitas flores perfumadas / Para brindar à tua felicidade / Quero dar-te uma taça do meu pranto / Como prova da tua falsidade... AÍ É PRA ARROMBAR A TABACA DE XOLINHA!!! Quem não tem cão caça com Gato. Pois, nós temos, também, o nosso Frank Sinatra, ora bolas!!! Isto é o que podemos chamar de BOLERO 100% nostalgia... Este foi o WALDICK que conhecemos ao encantar-se no dia 04.09.2008, ou seja, na primeira segunda-feira deste mês de setembro vem em nossa lembrança os nove anos do seu desaparecimento, aos 75 anos de idade. O cara tinha em seus melosos boleros aquelas temáticas da vida noturna, bares sombrios, amores perdidos e puteiros que varavam toda uma noite. Esta música só parece com ‘’BUTECO’’. Ela é uma homenagem à Associação Protetora dos Cachaceiros.
Pois bem!!! Eurípedes Waldick Soriano foi um cantor e compositor brasileiro, ícone da música classificada como brega. O “FENÔMENO” Waldick e a posição quase marginal que o ritmo “CAFONA” ocupou mereceu uma análise mais apurada e científica no livro escrito pelo historiador e jornalista Paulo César de Araújo, Intitulado “EU NÃO SOU CACHORRO, NÃO – Música popular cafona e ditadura militar” (Rio de Janeiro, Record, 2005), a obra traz, já em seu título, uma referência a este cantor e sua música de maior sucesso. Ali o autor contesta, de forma veemente, o papel de adesista ao regime de exceção implantado a ferro e fogo no Brasil pelos militares, por parte dos músicos “BREGAS”. Waldick, segundo ele, é um dos exemplos, tendo sua música “TORTURA DE AMOR” censurada em 1974, quando foi por ele reeditada. Apesar de ser uma composição de 1962, o regime não tolerava que se falasse a palavra “TORTURA”…
Na sua cidade natal, Waldick sempre foi tratado com certo menosprezo. Aristocrática, Caetité mantinha apenas nas camadas mais populares uma fiel admiração. Ali teve dois de seus filhos, gêmeos, de forma quase despercebida, em 1966. Em meados da década de 90, porém, a cidade teve num político o resgate do filho ilustre. O vereador Edilson Batista protagonizou uma grande homenagem, que nomeou uma das principais avenidas com o nome de Waldick. Pouco tempo depois, o SBT realizava ali um documentário, encenado por moradores locais, retratando a juventude de Waldick, sua paixão pela professora Zilmar Moura, a mudança para a região sudeste do país.
Aos 25 anos, Eurípedes Waldick Soriano foi influenciado pelo cinema de faroeste e resolveu adotar o estilo do personagem DURANGO KID --foi assim que acessórios como o chapéu preto passaram a fazer parte de seu visual. Em 1958, como tantos outros nordestinos, feito o Lula, mais conhecido como o SEBOSO DE CAETÉS, resolveu ir "TENTAR A VIDA" em São Paulo. Queria ser cantor ou artista de cinema. Para sobreviver, enquanto a oportunidade nas rádios não surgia, foi faxineiro, servente de pedreiro, motorista de caminhão e engraxate. O primeiro contrato profissional como cantor e compositor foi assinado em 1960, com a gravadora Chantecler, ano em que lançou seu primeiro disco, um 78 rpm com os boleros "QUEM ÉS TU" e "Só Você".
O sucesso absoluto veio na década de 70, quando ele se tornou ícone da música conhecida como BREGA, mas que ele preferia dizer ROMÂNTICA. Suas canções eram tocadas nas rádios populares. Nesse período, sua presença era disputada por programas de televisão como o "Cassino do Chacrinha" e o "Programa Silvio Santos". O maior sucesso foi à música "EU NÃO SOU CACHORRO, NÃO", do disco "Ele Também Precisa de Carinho", lançado em 1972. O nome da música se tornou expressão popular no Brasil. Nos anos 90. Soriano foi homenageado por Falcão, outro cantor da música brega, que regravou "Eu Não Sou Cachorro, Não" em inglês, na versão "I'M NOT DOG NO".
No fim da primeira década do Século XXI, o cantor se mudou para Fortaleza, no Ceará e excursionou pelo Nordeste. Dois anos antes de morrer, o artista foi tema do documentário "WALDICK, SEMPRE NO MEU CORAÇÃO", dirigido pela atriz Patrícia Pillar, que abordou a carreira e a vida íntima do artista no filme. Em 2007, foram lançados pela Som Livre os CD e DVD "Waldick Soriano - Ao Vivo". O cantor se casou três vezes. Sua última mulher foi Walda Soriano, uma galegona ao molho pardo de dois metros de altura. Por natureza, Waldick era um manguaceiro nato e também um mulherengo machista a toda prova. Waldick Soriano deixou uma das frases mais bem cunhadas nos anais da boemia e dos cabarés da vida: "DIGO SEMPRE QUE, CACHAÇA MODERADA E MULHER EM EXAGERO NÃO FAZEM MAL A NINGUÉM"...