Não é preciso ter vivido no Nordeste entre as décadas de 1930 e 1990 para entender o profundo contexto de fé em torno do nome de Frei Damião. Ainda hoje, há quem recorde o poder curativo alcançado por meio da batina do religioso – da qual muitos fiéis tentavam conseguir um pedaço. A um passo de ter concluída sua canonização, o Frei terá sua história e santidade – metafórica ou não – contada no longa-metragem “Frei Damião – o santo do Nordeste”, dirigido pela cineasta pernambucana Deby Brennand.
O documentário será exibido pela primeira vez durante o festival Cine PE, no Recife, no próximo dia 29 de julho. “Aqui para os nordestinos, Frei Damião é um mito cujas histórias todo mundo conhece. No Brasil inteiro, porém, pouco se sabe sobre o lado humano; o homem”, comenta a diretora. De acordo com ela, o enfoque do filme está na vontade em descobrir “o que acontece para transformar um homem em santo”, premissa conduzida pela curiosidade dela própria, que buscou trazer para as telas detalhes sobre Damião antes do histórico de sensitividade e fé que deram ao frade uma reputação milagrosa.
Passados 12 anos desde a morte do religioso, as novas gerações ainda testemunham a santidade do capuchinho, sobretudo por meio das histórias que ultrapassam os limites do tempo. “A esperança é de que o filme seja acolhido inclusive por um público mais jovem, pelas pessoas que não conviveram com ele. Muito além do âmbito religioso, as pessoas que forem ao cinema para ver essa história vão se deparar com um homem que doou mais de seis décadas de sua vida por uma causa e isso é algo muito forte, muito bonito de ver”, completa Maciel.
Imagens raras e milagres testemunhados
Produzido entre 2016 e 2018, o longa Frei Damião – o santo do Nordeste reúne imagens inéditas, entrevistas, depoimentos e testemunhos de milagres. Entre as imagens, há o material coletado pelo parceiro do capuchinho, Frei Fernando. “É normal entre os Franciscanos – ordem a qual ele pertencia – que se formem duplas. Frei Fernando, que era muito próximo de Damião, era apaixonado por cinema e filmava tudo que via. Essas filmagens mostram uma visão íntima e cotidiana do religioso que trouxemos para o filme”, comenta a diretora Deby Brennand.
A narrativa, que mostra a vida do religioso desde sua infância, mistura imagens e relatos reais com dramatizações da juventude do franciscano. A montagem conta com imagens feitas na Itália, terra natal do religioso. Foi no país europeu que familiares e biógrafos afirmam ter sido o local em que ele teria recebido o chamado de Deus, aos 13 anos. Há ainda gravações nos estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia e Ceará, pontos importantes percorridos durante as Santas Missões. Devoto e crente de sua santidade, o cantor cearense Fagner é um dos destaques do documentário, com um depoimento sobre a personalidade do capuchinho.