Por Altamir Pinheiro
O cearense Delmiro Gouveia que foi brutalmente assassinado no mesmo ano que aconteceu a Hecatombe de Garanhuns em 1917, aos 54 anos de idade, foi um herói em seu tempo. De sua visão empresarial originou-se, no início do século XX, a formação do primeiro polo industrial do sertão nordestino junto com a implantação da primeira indústria têxtil no Sertão das Alagoas, a indústria chamava-se Cia. Agro Fabril Mercantil que começou a funcionar no ano de 1914, na longínqua Vila da Pedra, hoje município de Delmiro Gouveia. Os primeiros carretéis vieram da Finlândia. A primeira compra de algodão do Egito. Depois veio a utilização do algodão Seridó, plantado por ele mesmo nas suas próprias terras esturricadas na época dos chuvosos e tenebrosos invernos no sertão alagoano. Passaram-se 100 anos, mais precisamente 102 anos da morte do considerado Barão de Mauá do Nordeste, mas o VISIONÁRIO DELMIRO continua na memória da nossa região.
Como descreve o historiador José Cícero Correia, “A Fábrica da Pedra inaugurada em 1914 não surgiu do nada, como muitos descrevem, no entanto, os projetos de Delmiro para o sertão eram outros. Pretendia juntamente com investidores estrangeiros gerar energia elétrica a partir da Cachoeira de Paulo Afonso e fornecer aos grandes centros do Nordeste. Já estava quase tudo certo, Delmiro e os gringos tinham o apoio político dos Governos de Alagoas e Bahia para iniciarem as obras. Faltava apenas o aval de Pernambuco, o que não aconteceu, pois o Governador pernambucano achava que aquele negócio tinha alguma velhacaria, e não assinou a concessão para instalação da rede e dos postes para transmissão de energia elétrica gerada a partir da Cachoeira de Paulo Afonso”. Depois, com sua intuição visionária e sendo um utopista extravagante, teimoso e cabeça dura, sozinho, ele fez na marra, na tora, de supetão!!!
Esse destemido comerciante conhecido como o Rei das Peles(negociava com couros de boi e bode), “O Mauá do Nordeste” e também era tachado como o “O coronel dos coronéis”. No Recife, comprou a moderna Usina Beltrão; construiu o Mercado do Derby, considerado o primeiro SHOPPING CENTER do Brasil. Perdeu tudo num incêndio criminoso. Raptou uma jovem de 16 anos e fugiu para o Sertão de Alagoas. A trajetória do cearense que modernizou o Recife no final do século XIX e viveu os últimos 15 anos no lugarejo da Pedra, hoje Delmiro Gouveia. Com seu pioneirismo, essa sumidade denominada de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, deixou no seu exemplo, a marca da superação e ousadia de um nordestino “cabra – macho sim senhor”. Que foi capaz de realizar tamanha obra, graças a sua capacidade visionária de enxergar o grande potencial natural daquela região.
No cancioneiro nordestino há uma bonita letra que se traduz em um hino intitulado Paulo Afonso que é um lindo e inspirado baião composto no ano de 1955 por dois monstros sagrados da música nordestina que eram os parceiros Luiz Gonzaga e Zé Dantas e em um dos seus refrões têm-se a impressão que os dois inspiraram-se no grande poeta português Fernando Pessoa com aquela famosa frase, “DEUS QUER, O HOMEM SONHA, A OBRA NASCE”. Ei-la: Delmiro deu a ideia / Apolônio Aproveitô / Getúlio fez o decreto / E Dutra realizô / O presidente Café / A usina inaugurô / E graças a esse feito / De homens que têm valô / Meu Paulo Afonso foi Sonho / Que já se concretizô...
Delmiro era um visionário, um expansionista congênito, inclusive, sem o menor apoio dos governadores de Alagoas e Pernambuco, ele construiu, braçalmente com seus jagunços, quase 500 quilômetros de rodovias no sertão: a estrada em sua primeira etapa teve as picadas que saíram de Pedra até Santana do Ipanema; na segunda até Bom Conselho; na terceira chegou em Garanhuns. Os primeiros automóveis que transitaram na poeirenta Avenida Santo Antônio foram carros de fabricação inglesa que se moviam do lugarejo Pedra, ele pernoitava em Santana do Ipanema e depois seguia viagem até Garanhuns e daqui pegava o trem até a metrópole Recife. Lamentavelmente, tudo isso foi truncado quando do seu assassinato, em 1917, aos 54 anos - um crime nunca inteiramente esclarecido.
Por fim, respeitando a maçaranduba do tempo há o que se perguntar: o que o prefeiturável de Garanhuns Hélder Carvalho tem em comum com a ousadia e o voluntarismo de Delmiro Gouveia?!?!?! TUDO!!! Delmiro na iniciativa privada muito nos deu, Hélder na gestão pública tem tudo para retificar os rumos do município. Até porque o empresário garanhuense tem um perfil de liderança e totalmente voltado para a inovação. Hélder, na frente da prefeitura tem tudo para ser um agente de mudanças. Governar Garanhuns é um exercício de criatividade, planejamento e persistência. Por ser uma pessoa capacitada para idealizar projetos, espero que esse artigo tenha sido o estopim para Hélder incorporar o espírito arrojado de Delmiro, e ao ter em mãos as rédeas da prefeitura saiba conduzi-la com eficácia as broncas que estão por vir e até correr alguns riscos calculados, e POR QUE NÂO?!?!?!