Um feito bicentenário
Primeira experiência republicana no Brasil, Revolução Pernambucana de 1817 segue viva no imaginário local com lições de liberdade e igualdade de direitos
ALEPE/Gabriela Bezerra e Haymone Neto
Data Magna do Estado, o dia 6 de março marca o estopim da Revolução Pernambucana de 1817, que deu início a um período republicano vivido no Brasil antes mesmo da destituição do imperador Dom Pedro II. Com o envolvimento direto de 50 padres e cinco frades, o movimento originou-se no Seminário de Olinda, ficando popularizado como “Revolução dos Padres”.
A seu favor, o levante contava com o histórico de luta nativista em Pernambuco, que já havia contribuído para a expulsão dos holandeses (1654), deflagrado a Guerra dos Mascates (1710) e conspirado contra a metrópole com os Irmãos Suassuna (1801). A trajetória alimentava o imaginário dos revoltosos, a ponto de Cipriano Barata, um dos envolvidos na Revolução de 1817, defender que “é certamente Pernambuco a província (…) mais ciosa da sua liberdade por isso a mais abundante de sucessos políticos e a mais capaz de servir de farol ao espírito público do Brasil inteiro”.
Em 1808, a chegada da Família Real ao Brasil contribuiu para o sentimento de revolta, ao expor as contradições entre a ostentação da Corte Portuguesa e a realidade dos que viviam na então colônia. O impulso libertário chegava da Europa por meio de reuniões em lojas maçônicas, como o Areópago de Itambé, a primeira do Brasil, fundada em 1796 nessa cidade da Mata Norte. No ano anterior à revolução, Pernambuco já contava com cinco dessas assembleias.
Se as ideias liberais criaram raízes, o almejado apoio internacional à rebelião não passou de esperança. A expectativa de reconhecimento pelos Estados Unidos se frustrou e a ambição de libertar Napoleão Bonaparte da Ilha de Santa Helena, na costa da África, para liderar a Revolução de 1817 jamais foi concretizada.
Apesar da curta duração (menos de três meses) e do caráter regional – abarcando, ainda, as províncias da Paraíba e do Rio Grande do Norte –; o movimento contribuiu para o processo de independência nacional, concluído cerca de cinco anos depois. Como punição pela revolta, Pernambuco perdeu territórios que atualmente compõem os Estados de Alagoas e do Rio Grande do Norte.
brasao-pe-topico-contextoContexto – Com cerca de 450 mil habitantes, Pernambuco possuía a terceira maior população do País na época, superado apenas por Minas Gerais e Bahia. Na esfera econômica, os 350 engenhos de cana de açúcar perdiam protagonismo para mais de 500 fazendas produtoras de gado e, principalmente, de algodão, cultura bem adaptada à Mata Norte e valorizada a partir da Revolução Industrial. Consequência da presença da Família Real no Brasil, a abertura dos portos trouxe nova dinâmica ao comércio de matéria prima para o setor têxtil, que passou a ser realizado sem intermediação da metrópole. O cenário impactou na política, historicamente controlada pela elite açucareira da Mata Sul. Como reflexo das disputas do período, cana e algodão estão representados no brasão do Estado.
6 de março – Com a tomada do poder pelos revolucionários em 6 de março de 1817, o governador de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, refugiou-se no Forte do Brum e, em seguida, foi deportado para o Rio de Janeiro. Entre os integrantes do movimento revolucionário, formou-se um um governo provisório composto por: Padre João Ribeiro, representando o clero; capitão Domingos Theotonio, os militares; advogado José Luiz de Mendonça, os profissionais liberais; coronel Manuel Corrêa de Araújo, a agricultura; e Domingos José Martins, os comerciantes.
Consequências – A pedido de Dom João VI, o Conde dos Arcos comandou as tropas portuguesas na repressão ao movimento de 1817. Pernambuco foi cercado por terra e mar. E, mesmo dentro da província, havia resistência aos revolucionários, notadamente do setor canavieiro da Mata Sul. Presos políticos foram levados ao Forte das Cinco Pontas e a outros Estados; muitos foram enforcados e baleados com arcabuzes (arma de fogo mais primitiva utilizada na época), outros tiraram a própria vida. A capitania perdeu parte do território, mas os ideais da revolução permaneceram vivos, voltando a eclodir em 1824, na Confederação do Equador.
Data Magna – Desde 2007, a Revolução Pernambucana é reconhecida como Data Magna do Estado, estabelecida por meio da Lei nº 13.386/2007, de iniciativa da deputada Terezinha Nunes (PSDB).