“Eu tenho a teoria de que a televisão é a janela para a alma de uma nação”. É assim que começa o episódio sobre o Brasil do programa de televisão britânico “The Greatest Shows on Earth” (Os melhores programas do mundo, em tradução livre).
Se a teoria da apresentadora Daisy Donavon estiver correta, a alma do Brasil é uma mistura perversa de sexo e morte. Ou pelo menos é essa a conclusão a que ela chega após passar uma temporada no Brasil, conhecendo alguns programas da TV aberta.
“A televisão aqui valoriza o teatro do extremo, da beleza do corpo das mulheres a programas que exploram casos de polícia”, explica no começo da reportagem.
Daisy busca exemplos extremos para comprovar sua teoria. A competição “Miss Bumbum”, exibida por um canal da TV aberta, é alvo de detalhada análise. “Estou exposta a um festival da carne”, impressiona-se a apresentadora enquanto assiste à cena de um programa de auditório em que um cirurgião plástico descreve um bumbum perfeito.
Ela chega a participar de uma pegadinha com uma das participantes para entender melhor o que motiva essas meninas a se exporem dessa forma. A conclusão: “no Brasil, o bumbum pode te levar a lugares”.
A própria concorrente endossa a visão da britânica: “no Brasil, para a gente entrar na TV e na mídia, muitas vezes a gente tem que entrar pela porta dos fundos. Temos que mostrar primeiro nossa beleza, pra depois mostrar o que temos por dentro e a capacidade intelectual”.
Essa “fixação questionável com as mulheres na televisão brasileira” parece não ter limites para a britânica. Daisy faz duras críticas a determinado programa em que mulheres de biquíni competem em jogos “espetacularmente sem propósito”.
“O que me parece ser um programa degradante e sadomasoquista é transmitido, incrivelmente, às 21h de um sábado para 10 milhões de espectadores”, explica, incrédula, ao seu público.
O questionamento que se segue, é desconcertante: “se a televisão brasileira está disposta a tratar as mulheres dessa forma em sua busca por espectadores, existe algum limite que ela não cruzaria?”.
A resposta vem banhada em sangue. A jornalista britânica vai ao norte do país para conhecer melhor o que considera uma forma inesperada de entretenimento: os sangrentos programas policiais. “É isso que as pessoas assistem para o entretenimento na hora do almoço?”
Daisy se impressiona com a proximidade com que o sexo e a morte convivem na mídia brasileira. Por aqui, ambos são mais visíveis do que em outros lugares e talvez por isso mesmo, parece que há entre os brasileiros uma sensação de “aproveite o momento”.
“Meu Deus, esse país não é para os de coração fraco”, conclui.