Por Junior Almeida
Esses dias eu estava vendo algumas coisas na internet, quando para minha grata surpresa acessei o excelente site mantido por Orlando Cadete, onde se encontra tudo sobre São Bento do Una. Como o município de Capoeiras é filho daquela terra, suas histórias frequentemente se cruzam, não sendo diferente também no espaço virtual citado. Lá eu encontrei duas pequenas notas antigas do Diário de Pernambuco relacionadas a Capoeiras, que mereceram registro. A primeira é datada de 30 de novembro de 1981 e, diz que:
Em clima de festa, o governador Marco Maciel inaugurou as melhorias na PE- 193 que liga Capoeiras a São Bento do Una. O prefeito José Valtaso de Macedo, de Capoeiras, afirmou que antes o percurso entre Capoeiras para São Bento do Una era cumprido em duas, três horas. Agora, com a inauguração da rodovia vamos fazê-lo em meia hora, economizando tempo e combustível.
O que chama a atenção desse pequeno texto do DP é a constatação que 39 anos atrás os políticos já falavam na rodovia estadual que corta Capoeiras, ligando os municípios de Caetés e São Bento do Una, e prometiam sua melhoria. Estamos no início de novembro de 2020, e doze governadores já sucederam Marco Maciel, à frente dos destinos de Pernambuco e, mesmo assim a PE 193 não está totalmente pronta. Faltam atualmente aproximadamente quatro quilômetros de asfalto e que se recupere o de má qualidade que já foi feito.
A segunda notinha é um pouco mais antiga, de 1959, quando Capoeiras ainda era distrito da terra dos Valença. O texto leva para todo Estado, através do jornal, o nome do potentado João Borrego, que empresta seu nome à principal via da cidade, e seu genro Osvaldo Celso Maciel, que é homenageado dando nome à Escola “A Sementinha”. Diz o texto:
Osvaldo Celso Maciel, comerciante, venceu a Manoel Soares da Rocha, mais conhecido como Mané Veinho, com uma vantagem de 874 votos sobre o candidato dos Valença. Osvaldo tomou posse em 07 de novembro. Sua vitória eleitoral foi muito comemorada, especialmente pelo seu sogro João Alves de Siqueira, mais conhecido como João Borrego, que soltou nas ruas da cidade de São Bento e da vila de Capoeiras, quantidade de borregos que representaram a vantagem eleitoral do seu genro.
Sinceramente, estranhei essa notícia e resolvi investigar, cruzando algumas informações. Certamente um fato como esse, se tivesse mesmo ocorrido, seria de conhecimento de muita gente na terrinha, e não é o que acontece. Recorri ao meu “Google particular”, Maria das Neves, minha mãe, que além de ser afilhada da esposa do comerciante, Dona Quiterinha, nessa época, trabalhava como caixa na loja de “Seu” João, a Casas Borrego, e ela me disse que nunca tinha ouvido falar desse caso.
Outra pessoa que procurei para saber direito dessa história foi Zezinho Borrego, que por três vezes foi prefeito de Capoeiras e é casado com Dona Daíce, neta do poderoso chefe político. De Recife, “Seu” Zezinho me disse, através do seu filho Paulo, que tal fato nunca aconteceu, portanto, podemos concluir que provavelmente o autor das linhas do Diário de Pernambuco foi vítima de uma “barriga” (informação falsa, por falta de checagem, jargão jornalístico), ou simplesmente mentiu por conta própria. Para usar uma expressão da moda, poderemos dizer que o DP já naquela época divulgou a chamada “fake news”.
*Foto: Fred, Duda, Heronides e João Borrego, na Festa de Reis de 1959.
Junior Almeida e escritor, autor dos livros: "A Volta do Rei do Cangaço"; “Lampião, o Cangaço e outros fatos no Agreste Pernambucano” e “Capoeiras, Pessoas, Histórias e Causos’. Ele reside na cidade de Capoeiras - PE, onde é comerciante.