Com seu chapéu de couro, tipicamente nordestino, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, clicado pelas lentes de Ricardo Stuckert, prepara, passo a passo, seu retorno ao Palácio do Planalto. Seja em 2018, ou até antes, caso o calendário eleitoral seja antecipado em razão da crise política.
Lula iniciou seu périplo nordestino por Juazeiro, a cidade natal de João Gilberto, na Bahia, onde não poderia ter sido mais explícito sobre suas reais intenções. "Agora eles estão tentando desmontar programas sociais, criar as condições para vender a Petrobras, o Banco do Brasil... Esse filme já vimos. O PT tem quadros muito bons e eu não preciso voltar. Agora, se o governo que está aí não sabe governar e precisa vender patrimônio público, eu digo: se vocês não sabem, eu sei", afirmou.
Coincidentemente, o Nordeste é a região onde o governo interino de Michel Temer é mais rejeitado. E Lula sabe bem que o programa que vem sendo implementado, que prevê cortes de programas sociais e privatizações, não foi referendado pelas urnas. Sem falar na proposta de emenda constitucional que fixa um teto para gastos públicos e atinge, essencialmente, os mais pobres. "Eu dizia: se você quer acabar com a fome do seu país, não tem outro jeito: você precisa incluir o pobre no orçamento. Seria impossível esse país chegar onde chegou se não fossem vocês", afirmou o ex-presidente.
Da Bahia a Pernambuco
De Juazeiro, Lula viajou a Petrolina e depois a Carpina, duas cidades pernambucanas onde foi tratado como rei. De lá, segue para Caruaru e depois a Recife. Numa de suas falas, ele voltou a bater duro na agenda de retrocessos sociais do interino. "Se eles quiserem reduzir os direitos do povo brasileiro a pó, eu digo: Não me provoquem, porque eu posso voltar e ser candidato em 2018."
Lula candidatíssimo e, por isso mesmo, seus adversários trabalham para transformá-lo em ficha suja. Isso passa por uma eventual condenação em Curitiba, onde Lula poderá ser julgado pelo juiz Sergio Moro, e depois em segunda instância. O ex-presidente, no entanto, se mostrou despreocupado. "Todo dia alguém diz que vai falar o nome do Lula. Estão há dois anos investigando e duvido que se ache um empresário a quem eu pedi R$ 10", afirmou. Segundo ele, as investigações o incomodam "como uma coceira. Já teve carrapato?", questionou.