"O Deputado Federal Luiz Couto (PT-PB) discursou na Câmara contra o preconceito que nordestinos são vítimas. Mostrou casos de preconceito contra nordestinos; lembrou que aqui há um povo forte, e cobraou respeito. O texto é um pouco extenso, mas vale muito a pena sua leitura".
Desde a última eleição presidencial, em que a atual presidenta foi vítima de uma das campanhas mais violentas e odiosas da história deste país, baseada na mistificação, que o Brasil testemunhou o surgimento de um dos mais tristes e repugnantes sentimentos do homem no mundo contemporâneo: a xenofobia! Os representantes da chamada “elite branca”, ao promoverem uma campanha separatista, acabaram por incentivar a divisão do nosso país.
Ao contrário do que pregaram na campanha eleitoral, não foi à fome do povo nordestino que elegeu a presidenta Dilma Rousseff, pois os nordestinos não votaram na candidata do PT porque estavam passando fome, mas sim porque o governo do Partido dos Trabalhadores forneceu as ferramentas necessárias e ensinou o povo a pescar, matando assim a fome da população. Ao invés de alienar as pessoas, o Bolsa Família trouxe dignidade humana para milhões de nordestinos que viviam abaixo da linha da pobreza, conscientizando as pessoas e fazendo com que elas exercitassem cada vez mais a sua cidadania.
Quem não se lembra da celeuma causada na internet pela estudante de Direito Mayara Petruso?! As declarações xenofóbicas da paulistana extrapolaram a rede mundial de computadores e foram parar nas capas dos maiores jornais e revistas do país, com direito a repercussão em vários programas de TV. Revoltada com o resultado da eleição que elegeu Dilma Rousseff presidenta, via Twitter, Mayara disparou: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”. Depois desta infeliz e preconceituosa declaração da estudante paulista, parece que agredir os nordestinos através das redes sociais, principalmente pelo Twitter, virou moda em nosso país.
Na semana passada, após o Ceará eliminar o Flamengo pela Copa do Brasil, jovens do sudeste voltaram a atacar os nordestinos no Twitter, com declarações carregadas de ódio e racismo. Ao sair em defesa do Flamengo e atacar a torcida cearense, a jovem Amanda Regis disse: “esse povinho falando do meu time, são tudo uns mal amados, invejosos”, se referindo a nós nordestinos como se fôssemos pardos, bugres, índios e uma cambada de feios, concluindo a mensagem dizendo: “não é a toa que não gosto deste tipo de gente”. Achando pouco, outra jovem do sul maravilha, chamada Patrícia Ferrari, disse que concordava com Amanda Regis em partes, dizendo que não precisava exagerar, e ironizou: “...só cabeça chata tá bom”.
Por causa de atitudes preconceituosas como essas é que o meu coração está ferido, a minha alma chora por dentro. Há tempos que o povo nordestino é alvo de zombarias, preconceitos e chacota. No sul maravilha, os amantes da xenofobia acostumaram-se a chamar os nordestinos de “Paraíba”, “Ceará”, “Cabeça chata” e Etc., sempre como sinônimo de algo inferior, pejorativo, como se nordestino realmente não fosse gente. Cabeça chata porque, segundo os preconceituosos, o povo nordestino não tem massa cefálica, a fome atrofiou o nosso celebro. Os xenofóbicos nos enxergam como se fôssemos seres incapazes de pensar, formar opinião, incapazes de sermos úteis ao nosso país, enfim, nos enxergam como uma “praga”, algo nocivo a convivência em sociedade.
Os nordestinos demonstram a sua capacidade de construir um país desenvolvido onde a população possa viver com dignidade. Os paraibanos Augusto dos Anjos, Ariano Suassuna e José Lins do Rêgo deram uma grande contribuição à literatura brasileira. Da mesma forma, também podemos citar os pernambucanos João Cabral de Melo Neto, Manoel Bandeira e Paulo Freire, além do alagoano Graciliano Ramos e os cearenses José de Alencar, Rachel de Queiroz e Dom Helder Câmara.
O nordeste ainda deu ao Brasil nomes como o maranhense Gonçalves Dias e o baiano Jorge Amado. O saudoso e eterno Rei do Baião, Luiz Gonzaga, também é made in nordeste, sem falar em Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elba e Zé Ramalho, Geraldo Vandré, Gilberto Gil, Fagner, Chico Anysio, Lenine, Patativa do Assaré, Sivuca, Dominguinhos, Flávio José, Petrúcio Amorim, Nando Cordel, Marciel Melo, Geraldinho Lins, enfim, passaria o dia inteiro aqui falando dos autores, artistas e compositores nordestinos e suas obras, comprovando assim a grande contribuição que o nordeste deu a cultura deste país. Poderia falar ainda na contribuição que o economista paraibano Celso Furtado deu ao Brasil, considerado uma das mentes mais brilhantes que este país já teve.
Esperamos respeito mútuo da parte da ala da xenofobia sulista que persiste em querer massacrar o povo nordestino. Povo este tão sofrido, que resistiu a escravatura. Zumbi dos Palmares é o símbolo da resistência dos negros à força opressora dos poderosos que se julgam superiores e donos do nosso país. Não podemos e nem aceitamos mais sermos humilhados e massacrados. Ao invés de humilhar o povo nordestino, o Brasil de hoje deve reparar uma dívida histórica que tem com o povo do nordeste, dívida esta regada a muito suor, lágrimas e sangue. A linda e sofrida história do Brasil não teria sido construída sem a ajuda dos heróis anônimos da pátria: O POVO NORDESTINO! A população nordestina é historicamente injustiçada, desde os tempos do Brasil colônia até hoje.
O nordestino é um povo simples, honesto, trabalhador. Na sua grande maioria, essa gente sofrida tira o sustento do solo, fruto do trabalho das próprias mãos. Come àquilo que o seu suor permite, sem jamais botar a mão nas coisas alheias ou passar a perna no próximo. Sou nordestino Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados. Com muito orgulho, não nego. Nasci no semi-árido paraibano, e conheço de perto a realidade do povo sertanejo. E é por isso que venho aqui defender o nordeste, defender os nordestinos. Este povo humilde e batalhador não merece ser tratado com desdém, muito menos ser vítima de quaisquer tipos de preconceitos! Somos um povo digno de toda consideração e respeito. Conforme muito bem definiu o escritor Euclides da Cunha, em Os Sertões, “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”.
Era o que tinha a dizer.
Luiz Couto - Deputado Federal