Por Altamir Pinheiro
A razão eu não sei explicar, mas sempre fui alucinado, tresloucado, desde criança, ser um recenseador do IBGE, contar gente, saber quantas pessoas têm em Garanhuns, ir de casa em casa para conhecer os hábitos desse povo, andar pelos cortiços, becos e vielas, este sempre foi o meu sonho. Pois, não é que, no ano de 2012(já de bengala em punho) realizei tal façanha: Fiz o concurso, posteriormente o curso e me habilitei, com um computadorzinho em mãos num verdadeiro CONTADOR DE GENTE. De crachá do IBGE na caixa dos peitos peguei no serviço e cai na estrada me achando, de fato e de direito, um verdadeiro recenseador demográfico.
Pois bem!!! Falam que a marca registrada do nordestino é a alegria, a gentileza, talvez um certo excesso de calor humano ao receber alguém em sua casa. Um abatimento aí... Nem tanto mestre, nem tanto... Talvez o nordestino, a primeira vista, na aparência, seja mais afável em relação a outros povos, segundo já li sobre o assunto, quando nos confrontamos com a serenidade dos britânicos, a quase rispidez ou boçalidade natural dos franceses, o drama exagerado dos italianos, a falsa jovialidade dos americanos ou então a frieza misteriosa dos japoneses. Por não sermos possuidores de etiqueta no quesito comportamento, quase sempre o nosso “Muito Obrigado", "Com licença" e "Por Favor", são da boca pra fora!!! De um modo geral as nossas fórmulas ou Formas cerimoniosas estão pra lá de Bagdá. Entendemos que, a educação não deixa de ser uma questão cultural, mas é, principalmente, uma questão econômico-financeira e de convívio social. Basta vê ou o que dizer dos usuários de SMARTPHONES que pegam o aparelho no meio de uma conversa e deixa o seu respectivo acompanhante com cara de panaca ou cara de jumento sem mãe, ali, na mesa de um bar, numa reunião social ou num banco de praça!!!.
Das 777 casas que o IBGE deixou sobre minha guarda as visitei todas(Fiz o centro de Garanhuns incluindo o velho cabaré, parte dos bairros do Magano e Brasília). Inclusive, algumas residências, estivemos lá por mais de 10(dez) vezes. 90% dos meus contatos com esses donos ou donas de casas sempre fui tratado com indiferença e geralmente com quatro pedras na mão, quase que a pontapé. Se não bastasse à recepção do vira lata que me tratava da mesma maneira que recebe um carteiro dos correios... Ao bater na porta de uma casa, me identificar como recenseador do IBGE que estava ali, fazendo o CENSO, era tratado na base dos esturros e cheios de galhofas, ironias, sarcasmos e zombaria, saiam-se com essas: O que é isso? Pra que serve? A gente ganha o quê se responder? Vai aumenta o nosso bolsa esmola? Eu quero é me aposentar arrume um jeitinho aí seu barbudo que eu lhe dou um agrado por fora...
Como eu não assinava recibo, respondia-lhes à altura. Dava-lhes o troco a contento. Se bem que, no curso de 30 dias que fiz ou prestei, os monitores do IBGE proibiam que nós recenseadores tocassem no assunto política. Em hipótese alguma podíamos enveredar pelo caminho da politicagem com o recenseado. Caso fosse descoberto, seria expulso sumariamente. Nos 80(oitenta dias) que prestei serviço aquele órgão foi o que mais falei: POLÍTICA!!! Quando eu prestava as devidas informações que estava ali para catalogar dados, saber a população daquele bairro, saber as carências de infraestrutura da comunidade, para que as autoridades pudessem fazer suas políticas governamentais, a cretina da recenseada soltava os cachorros esculhambando com os políticos que não faziam nada, quando eu retrucava: a culpa é sua, que vota errada, minha senhora!!! Por que não faz como eu que só voto se o candidato me pagar?!?!?! De graça eu não voto nem a pau!!!
Mas, divagando sobre a cidadania do nordestino, para nós que de um certo modo somos pessoas semianalfabetas e brejeiras, quase sempre nos Perguntamos: O que é CIDADANIA?!?!?! O brasileiro ou o nordestino em particular exerce a cidadania?!?!?! Ora, Exercer a cidadania pode ser tomar uma atitude para denunciar, exigir, cobrar; poder participar de uma associação de moradores, procurar órgãos de proteção ambiental, às crianças, aos idosos, aos animais; qualquer forma de participação: individual, coletiva, organizada ou ocasional; cobrar insistentemente da prefeita Neide Reino para que ele tome jeito, tenha compaixão, e faça, semanalmente, um SOPÃO COM MUITA SUSTANÇA, em duas ou três comunidades carentes da cidade de Capoeiras, para aquele povo se alimentar das proteínas necessárias que o organismo humano exige. O fundamental é não tomar o inaceitável como natural ou então usar do famoso expediente: fazer o quê? Infelizmente eu não posso fazer nada... De um modo geral, por sermos semianalfabetos e brejeiros a ideia é a de que o exercício da cidadania dá trabalho...
Na contra mão dos direitos e deveres, o que é que você acha do fura fila?!?!?! E a questão do lixo?!?!?! O que dizer do respeito às leis de trânsito, e o comportamento do motoqueiro?!?!?! O flanelinha atacando o seu carro. E o vizinho que toca música alta e mesmo se você vá pedir-lhe educadamente para baixar o volume, ele manda você “se fudê”... E o Altamir Pinheiro respondendo a um anônimo que o agride no blog do Roberto Almeida, hein?!?!?! Pois é isso: somos agressivos, oportunistas e mal educados. Você deve achar que estou exagerando, pois saiba que não!!! No anonimato, já de um bom tempo pra cá, todo mundo vem se tornando brutalmente igual. Fértil ou realista está no dia-a-dia, no cotidiano das ruas. Na verdadeira acepção da palavra, o brasileiro está a anos-luz de distância do que é CIDADANIA...
Voltando ao recenseador do IBGE, Altamir Pinheiro, certa vez, ao chegar num casebre de uma viúva de apenas 45 anos, com um casal de netos, segundo a avó, sua filha estava ausente por ter ido ao show da Banda Calcinha Preta na festa de São José em Capoeiras, patrocinada pelo prefeito NENEN. Esta “CIDADÔ recusou-se peremptoriamente a me prestar as devidas informações. Tentei... tentei... Mas não houve jeito, meus argumentos eram todos em vão. Ela não se dobrava, bateu o pé e disse que não falava: não, não e não. Daí, joguei duro com ela!!! Olhe, Dona MADALENA!!! Eu quero lhe dizer com todas as letras que por a senhora em não querer falar, para o governo, lá nos papéis do governo, a senhora não é gente e sim um animal. Esclarecendo melhor: para o governo a senhora é uma jega!!! Gente: nunca, jamais!!! Endiabrada e de olhos arregalados, bufando pelas ventas, ela me encarou, botou um pé na frente, mão na cintura e esbravejou: Você me respeite seu barbudo, eu sou uma mulher de vergonha, não admito que o senhor venha em minha casa para me tratar dessa maneira!!! Aquela altura, eu estava irredutível também: é isso mesmo, para o governo a partir de hoje a senhora não passa de uma JUMENTA e seus netos uns jumentinhos!!!
Fiz vê-la que, seria bastante prejudicada e, por seu nome não constar na burocracia do governo, quando ela se dirigisse a farmácia do Hospital Dom Moura, para pegar remédio de graça, não teria êxito, não seria atendida. A moça da farmácia, por entender que dona Madalena era uma égua, iria mandá-la para a farmácia veterinária para tomar injeção de cavalo!!! E outra coisa: Nos finais de ano em que a prefeitura e as entidades de cunho social ao distribuírem cestas básicas de alimentos para as comunidades carentes, a senhora não terá direito. Sua cesta, com certeza, será um feixe de capim!!! Mas uma vez ela esbravejou e de dedo em riste, disse-me: -eu não sei onde estou que não lhe dou um bufete na sua cara ou faça uma arte maior com um barbudo atrevido da sua marca. -Me respeite seu... seu... Eu não quero nem dizer o que tá aqui na ponta da minha língua... Sem abrir mão da minha dura investida, retruquei-a: sim, e tem mais, viu: O bolsa esmola dos seus netos, “ZÉ FINIR!!!”, fazendo gestos com as mãos disse-lhe, MORREU!!! Recebe mais não!!! Mas como à senhora não quer me prestar às informações, tá legal, se é assim que acha e impõe. Vou-me embora e passar bem!!!
Perto de dobrar a famosa curva do marmeleiro, bem adiante, só ouvia uma voz, me chamando: SEU BARBUDO!!! OH, SEU BARBUDO!!! VÓ TÁ LHE CHAMANDO, VOLTE, VÓ QUER FALAR COM O SENHOR!!! Era o neto de dona Madalena... Ao chegar lá, disse: pronto, senhora!!! E, dona Madalena, cabisbaixa, com a voz embaçada, turrona e sem me encarar, resmungou: como foi mesmo que o senhor falou essa história que os meus netos não recebem mais essa tal de bolsa lá no banco... Bem sendo assim, eu acho que vou responder suas perguntas. Pois, como lição de vida, daí, deduz-se que: A força da necessidade é irresistível, a precisão, a mendicância, a dependência da esmola falou mais alto para aquela “JUMENTA”, que está a dez mil anos-luz de distância para enxergar ou distinguir o que é CIDADANIA...