Após o trio investigado por homicídios e ocultação de cadáveres em Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, declarar para a polícia, em depoimento, que vendia salgados recheados com carne humana, as primeiras pessoas que teriam consumido os produtos começam a revelar como uma das mulheres agia para vender as comidas. De acordo com os moradores, o comércio de alimentos como empadas e coxinhas estaria prejudicado na cidade após os suspeitos contarem que fabricariam lanches com a carne das vítimas.Uma agente administrativa de 26 anos acredita ter comido uma das empadas vendidas pela mulher que integrava o trio. Quando o caso apareceu na mídia, a cliente, que não quis se identificar, reconheceu uma das suspeitas. “Eu estava num consultório médico quando ela chegou oferecendo a empada. Era a senhora mais idosa”, relata. Na última quarta-feira (11), duas mulheres e um homem foram presos e os corpos de duas vítimas foram encontrados enterrados no quintal da casa onde eles viviam.O episódio da compra das empadas aconteceu cerca de dois meses atrás. A agente administrativa conta que a vendedora insistiu, alegando que precisava de dinheiro para comprar um remédio controlado. “Todo mundo que estava na sala de espera acabou comprando para ajudar. Não notei nada de diferente, até porque tinha pouco recheio. Chego a me perguntar se realmente era [carne humana]. Senti um mal estar quando me dei conta, ao saber que posso ter comido isso”, afirma ela. Depois disso, a jovem conta que viu várias vezes a suspeita nas ruas, sempre vendendo lanches.
A suspeita de participar dos homicídios vendia os salgados em locais como clínicas e salões de beleza na cidade, principalmente na região próxima de onde morava. Cristiane Lima, de 29 anos, é dona de um salão em que a mulher ia frequentemente vender as comidas. “Desde dezembro que ela vendia empadas aqui. A maioria dos clientes comprava e não chegava a reclamar, alguns achavam mais ou menos. Uma vez, teve duas clientes que acharam muito salgado e não terminaram de comer. Ela dizia que era empada de frango”, lembrou. O produto seria vendido por R$ 0,50 ou R$ 1.A suspeita costumava ir até o salão de Cristiane aos sábados, sempre dizendo que estava vendendo para comprar remédios para um filho doente. “A empada era novinha, bem feita, e chegava bem quentinha aqui, até porque ela morava perto. As pessoas compravam mesmo, estava todo mundo com fome. Tinha vezes que ela vendia até dez empadas aqui”, falou. A cabeleireira teria chegado a provar o salgado, mas não comeu por completo. “Achei muito salgado e na hora o salão estava cheio, não deu nem tempo de comer”.
Diferente de Cristiane, uma manicure de 48 anos, que também não quis se identificar, teria comido a empada por completo. “Um dia, uma cliente nossa comprou para a gente lanchar, todo mundo. E eu até incentivei, para ajudar e porque estávamos todos com fome. Ela dizia que era light e de frango. Não percebi diferença que seria de carne humana, só estava muito salgada”. Por sofrer de pressão alta, a mulher não teria comprado o produto outras vezes. “Se eu não tivesse esse problema, provavelmente compraria de novo, nunca ia adivinhar. Ela chegava como coitadinha, dava pena.”, disse.
A manicure contou que o comércio da cidade já sente alguns efeitos negativos por conta do caso. "Vai demorar muito para a população esquecer isso. Isso é coisa que a gente pensa que só acontece na televisão, nos Estados Unidos, a gente nunca ia saber que o inimigo estava do nosso lado. Muitos comerciantes estão sofrendo com isso, porque a população não está mais comprando salgadinhos na cidade", contou.Os filhos de Cássia Vaz, de 26 anos, que é funcionária pública, também não estão comendo mais salgados na cidade . Ela chegou a comprar 10 empadas de uma vez, quando a suspeita vendia na porta de sua casa. “Não tinha sabor de empada, não tinha tempero. Eu achava estranho, porque era meio ligada, achava meio pastosa, mas acabava comprando”, concluiu.
Do G1