Por: Junior Almeida
Figura carismática, de família numerosa da região do Sítio Malhada dos Pombos e Queimada Grande, "Seu" Miguel era um dos moradores mais velhos de Capoeiras, e fez a sua "viagem" na noite passada no hospital local, deixando 12 filhos, mais de 50 netos, mais de 30 bisnetos, e alguns "escancha netos", como ele se orgulhava de dizer. Amigo de todos, velhos e novos, contador de causos, tinha até o final da vida uma memória privilegiada, lembrando com precisão de datas de acontecimentos importantes que fazem parte da História de Capoeiras, como o relato que conto no texto abaixo.
LAMPIÃO EM CAPOEIRAS
Até 1938 com o anúncio da morte de Lampião, as cidades do interior do Nordeste viviam em estado de alerta quanto a indesejável “visita”. No final de maio de 1935 chegou a notícia em Garanhuns, que Lampião estava para invadir a cidade. Muita gente com medo, abandonou de suas casas, deixando tudo pra trás. Nas cidades da região, menores que Garanhuns, logicamente as pessoas sabiam que seriam presas mais fáceis ainda para o facínora. Em todas as cidades da região as pessoas se preparavam para o combate com cangaceiros. As casas daquele tempo tinham em seus “para-peitos” buracos para que pessoas de cima das casas pudessem colocar as armas para guerrear. No final de maio, início de junho daquele ano, chegou a notícia em Capoeiras da invasão de Lampião e seu bando a Buíque, Pedra e Santo Antônio do Tará, localidades próximas à Capoeiras. Depois dessas invasões, o alerta na então vila, pertencente à São Bento do Una, era máximo. No final de junho o “Velho Moleque”, pai de “Antônio Moleque”, conta a todos que tapeou o “Rei do Cangaço”. Segundo relato, ele viajava em seu jegue, de Garanhuns para Capoeiras, quando foi surpreendido por Virgulino e seu bando, que o ordenou que os levassem à nossa vila, onde viria “acertar negócios” com o Coronel João Borrego. O Velho Moleque temendo o pior para a sua terra, disse ao cangaceiro:
- Capitão, o Senhor mandando, eu levo o Senhor pra onde me mandar, mas aviso logo que em Capoeiras tem muito macaco esperando a sua chegada.
Com essa imprudente mentira, o Velho Moleque livrou nossa terra quem sabe de muitas mortes, pois não tinha “macaco” nenhum na vila, apenas o povo pacífico e assustado. Com a informação de que Capoeiras estaria preparada para a sua chegada, Virgulino mandou...
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então que o Velho Moleque o levasse para Serrinha do Catimbau, hoje Paranatama. O bando parecia cansado, segundo o Velho Moleque. Vindos de algumas invasões na região o grupo era composto de apenas 9 cangaceiros, que se soube o nome de todos depois. Eram eles: Lampião, Maria Bonita, Maria Ema, Fortaleza, Cabo Velho, Medalha, Juriti, Moita Braba e Gato. Poderia ter mais alguns escondidos na mata, dando cobertura, mas que viajaram com ele, apenas esses. Perto de Serrinha, o Velho Moleque deixou o bando, e partiu. Em Paranatama o combate foi intenso. Liderados por João Caxeado e Oséas Correia, o povo de Paranatama botou Lampião pra correr, baleando Maria Ema e Maria Bonita, além de um cachorro do bando, de nome “Dourado”, que morreu no local. Paranatama e Mossoró no Rio Grande do Norte, são as únicas cidades nordestinas que botaram Lampião pra correr. Na cidade potiguar ainda foi pior para os cangaceiros, pois lá morreram os cangaceiros Colchete e Jararaca. (Lampião tinha por prática colocar o nome de cangaceiros mortos em combate em outros que entravam no bando. Isso fazia aumentar o mito que cangaceiros eram imortais. Jararaca, por exemplo, se tem conhecimento de três Homens com o mesmo nome, e Colchete além de ter morrido em Mossoró, tem o seu nome na lista de mortos na Grota de Angicos em 1938, junto com Lampião, Maria Bonita e mais oito cangaceiros). Aqui em Capoeiras, o que pouca gente sabe é que depois desse fato, em 1936 Lampião andou em nossas terras, onde passou despercebido. Andou pela rua principal, viu as saídas de fuga e chegou até passar na frente da loja de João Borrego, planejando quem sabe saquear a vila. Antes, em 1934, chegou no Sítio Alto do Tejo, já dividindo com o Sítio Mumbuca, um casal e uma mulher mais velha pedindo “arrancho”. Esse casal se dizia vindos de Monteiro na Paraíba, e a mulher que era mãe da mais nova, e sogra do Homem, deu o nome de Paulina. A avó do conhecido Miguel David, nascido em 29 de setembro de 1919, de nome Tereza Borges, ou Tereza de Salú Vicente, deu morada a esse casal, com quem fez grande amizade. Depois de algum tempo a Senhora Paulina revelou para Dona Tereza que “Paulina” não era o seu nome verdadeiro, e que também não era oriunda de Monteiro, que era na verdade uma tia de Lampião, fugida da Polícia Volante. Lógico que Dona Tereza guardou segredo. Dois anos depois de estarem morando em Capoeiras, certo dia, num final de tarde, chega na morada dos forasteiros dois Homens montados à cavalo. Era um “cabra” de confiança do cangaceiro e o próprio Capitão Virgulino, que estaria com seu bando próximo à Capoeiras, entre os Sítios Gentil e Caatinga Branca, próximo a Santo Antônio do Tará, nas terras da Família Vaz. Segundo Miguel David, que na época era um “molecote” de 17 anos, a dupla chegou ao sítio vestido normalmente, sem suas indumentárias de cangaceiros, que pareciam mais com caixeiros viajantes. Dona Tereza de Salú Vicente, que já fora avisada da visita, matou uma perua e preparou um jantar para os dois cangaceiros. Miguel Davi e seu primo de mesma idade cuidaram dos cavalos dos dois, serviço que lhes rendeu umas moedas e um pequeno punhal. O relato conta que Lampião dormiu dentro da casa da tia, enquanto o “cabra” passou a noite fazendo a segurança do chefe no terreiro. Amanhecendo o dia, Lampião agradeceu a Dona Tereza pelo abrigo de sua tia, e lhe prometeu proteção, disse a ela que qualquer problema que ela tivesse, era só mandar lhe dizer, que ele resolveria. Não se sabe se o fato de sua tia ser bem recebida em Capoeiras, ajudou para que Lampião e seu bando nunca agisse pelas bandas de cá.
Obrigada por homenagear um grande homem!!!!
ResponderExcluirsaudades.......
o mundo está carente de pessoas como seu Miguel Davi, vá com deus levar sua alegria à deus.
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