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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Queijarias em Pernambuco ainda precisam se profissionalizar.

Foto: Blog Capoeiras. Feira do queijo de Capoeiras, Pernambuco.

Reportagem do JC visitou  a feira do queijo de Capoeiras, agreste de Pernambuco.


Com as grandes indústrias comprando menos leite, as queijarias absorvem a produção


Por: Adriana Guarda

No negócio do leite sempre existiu uma briga histórica entre industriais e queijeiros. Concorrentes na aquisição da matéria-prima, cada um desfia sua lista de argumentos na disputa pelo mercado. No meio dos dois está o produtor de leite, vivendo os altos e baixos da oferta e da demanda. O pecuarista quer vender a quem oferece o melhor preço, paga mais rápido e desburocratiza a compra (quesitos que dão vantagem às queijarias). Os industriais reclamam da clandestinidade, que isenta as queijarias dos encargos sociais e dos impostos, além de questionar a qualidade do produto.

“Essa discussão é antiga, mas quem vive da atividade sabe que as queijarias socorrem o produtor nos momentos de crise. Agora mesmo está sobrando leite no mercado, porque algumas indústrias estão em processo de recuperação industrial, e é o queijeiro quem está recebendo a maior parte da produção. O governo precisa estimular as queijarias artesanais e criar regras flexíveis para que a atividade se formalize e se qualifique”, defende o presidente do Sindicato dos Produtores de Leite de Pernambuco (Sinproleite-PE), Saulo Malta.

Bacia Leiteira de Pernambuco enfrenta falta de compradores e inadimplência

A Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro) contabiliza 125 queijarias formalizadas no Estado e pelo menos 1.000 clandestinas. “É muito difícil fiscalizar, porque estamos falando de queijarias familiares, que funcionam nas cozinhas das casas. Também é preciso flexibilizar a legislação federal sobre alimentação no País, que é rígida com os pequenos e data de 1952”, defende a gerente-geral da Adagro, Erivânia Camelo. Segundo ela, nos últimos anos a Adagro vem tentando desenvolver algumas iniciativas para minimizar o problema. Uma delas foi criar um modelo de indústria de queijo menor, com processamento de até 500 litros de leite por dia. Antes, o menor modelo era para até mil litros/dia. Esse novo conceito simplifica as exigências impostas a uma indústria de maior porte.

A Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária de Pernambuco (Sara) está tentando tirar do papel um programa de qualificação profissional para o setor. O titular da pasta, Aldo Santos, diz que a expectativa é treinar mil queijeiros, com previsão de iniciar os trabalhos no próximo mês. A proposta é orientar sobre procedimentos sanitários na ordenha e boas práticas de fabricação. “O início do programa está dependendo de uma licitação para selecionar a empresa que vai ministrar a qualificação”, diz Erivânia. Apelidado de “queijo de quintal”, o produto artesanal precisa de um upgrade na qualidade.

Nas cidades da bacia leiteira é comum encontrar as feiras do queijo, que devem ser fiscalizadas pela Vigilância Sanitária local. Caminhonetes de atravessadores de Recife, Olinda, Palmares, Vitória de Santo Antão e vários municípios se aglomeram no local para comprar queijo. Alguns produtores preferem se aventurar na comercialização individual. As condições de higiene são precárias. Na maioria das vezes o produto é acondicionado em caixas de plástico sem tampa e sem plástico para proteger o queijo. Os consumidores apertam o queijo com a mão para conferir a consistência. O JC esteve na feira de Capoeiras (Agreste), que acontece todas as sextas-feiras.

A presença da reportagem provoca desconfiança. Chegamos a ser abordados e hostilizados pelos vendedores preocupados com a câmera fotográfica.

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