No próximo mês, fevereiro, Sidney Poitier completaria 95 anos de idade. Em 1963 fez história ao se tornar o PRIMEIRO ATOR NEGRO DA HISTÓRIA a receber o prêmio Oscar de melhor ator principal por sua performance no drama Uma Voz nas Sombras (Lilies of the Field) em 1963. Ao apresentar Sidney Poitier como ganhador da estatueta do Oscar, a consagrada atriz Ann Bancroft lhe deu um beijo na face, um gesto que causou escândalo entre o público mais conservador. Três anos depois, Poitier, contracenando com Katherine Houghton, protagonizaram uma das mais comentadas cenas, ao trocarem um ardente e prolongado beijo – o primeiro beijo inter-racial da tela cinematográfica – em Adivinhe Quem Vem para Jantar (1967).
Morreu nesta sexta-feira(7), nas Bahamas, o cidadão bahamense-americano Sidney L. Poitier. A informação foi confirmada pelo ministro das Relações Exteriores das Bahamas, Fred Mitchell aos sites internacionais. A causa e da morte não foi informada. Sua última aparição no Oscar foi em 2014, quando apresentou o prêmio de Melhor Diretor ao lado da atriz Angelina Jolie. Na ocasião, o ator foi ovacionado de pé pelos presentes.
O chamado BLACK WESTERN num país racista tipo os Estados Unidos era coisa impensável, na década de 60, um negro protagonizar um filme de Cawboy... Como diz o pesquisador e cinéfilo de bang bang Darci Fonseca, Nos anos 60 os Estados Unidos viram crescer as manifestações políticas pelos direitos civis e o mundo assistiu constrangido à morte do líder negro Martin Luther King. Muitos avanços ocorreram na sociedade norte-americana como reflexo dessa turbulência social e na década de 70 ocorreu a explosão dos chamados BLACK MOVIES(filmes com negros). JOHN FORD havia sido o diretor que mais incisivamente focalizou um personagem negro em um faroeste em “Audazes e Malditos” (1960) e o cinema teve que esperar até 1972 para ver produzido um autêntico Black Western.
No mundo artístico ninguém mais que Harry Belafonte lutou pelos direitos dos afro americanos, que é como os negros de lá gostam de ser chamados. Este consagrado cantor foi quem produziu, em 1972, “UM POR DEUS, OUTRO PELO DIABO”, contratando para estrelar esse western seu amigo de passeatas Sidney Poitier. Esse primeiro verdadeiramente grande astro negro de Hollywood havia sido, em 1968, o campeão de bilheterias dos Estados Unidos estrelando os filmes “Adivinhe quem Vem para Jantar” e “Ao Mestre com Carinho nesses dois filmes Poitier personificou o negro digno e exemplar, produto tipicamente hollywoodiano.
O faroeste “Um Por Deus, Outro Pelo Diabo” tem história similar à do belíssimo “Caravana de Bravos”, de John Ford. Porém a saga das famílias negras atravessando desertos e toda sorte de perigos rumo ao desconhecido para fugir do terrível passado, dá lugar às aventuras da dupla Buck e o Reverendo. Aos poucos o filme de Sidney Poitier segue como modelo “Butch Cassidy e Sundance Kid”, o western que dois anos antes obteve o mais retumbante sucesso que um faroeste havia alcançado na história do cinema. Paul Newman e Robert Redford disputam a preferência entre Poitier e Belafonte, não faltando nem mesmo o elemento feminino na figura de Ruth (Ruby Dee), perfazendo um inequívoco triângulo amoroso. “Um Por Deus, Outro Pelo Diabo”, até hoje um faroeste único e que merece ser revisto nem que seja para rir um pouco com Harry Belafonte e para saber que os heróis nem sempre eram brancos.
Por se recusar sistematicamente a representar papéis com chavões ou clichês a ele oferecido como ator negro, Poitier tornou-se um pioneiro para si mesmo e para outros atores negros. À época recebeu indicação de Melhor Ator por sua atuação em Acorrentados (1958). Seu trabalho em filmes como Sementes da Violência fez dele o primeiro astro cinematográfico negro de destaque. Entretanto, o filme que consagrou definitivamente Sidney Poitier foi AO MESTRE, COM CARINHO (1967). Um jovem professor, Mark Thackeray, enfrenta alunos indisciplinados neste filme clássico que refletiu alguns dos problemas e medos dos adolescentes dos anos 60. Sidney Poitier tem uma extraordinária performance como um engenheiro desempregado que resolve dar aulas, num conhecido bairro operário em Londres.
Da última geração de mitos do cinema, ainda com os pés no clássico, Poitier via sempre um tempo de transformações. As questões raciais eram levadas às telas. Nascido em Miami, ele logo sentiu os problemas da população negra nos Estados Unidos. Tentou ingressar no Teatro Americano Negro, ainda nos anos 40, só conseguindo na segunda tentativa. Eis os cinco filmes que tornaram Sidney Poitier o maior ator negro de todos os tempos: ACORRENTADOS, de Stanley Kramer; NO CALOR DA NOITE, de Norman Jewison; UMA VOZ NAS SOMBRAS, DE RALPH NELSON(Com a personagem Homer Smith, Poitier tornou-se o primeiro afro-americano a ganhar o Oscar na categoria principal); AO MESTRE, COM CARINHO, de James Clavell; ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR, de Stanley Kramer. O beijo entre a menina branca e seu noivo negro é visto pelo retrovisor do veículo, de forma distante. O impacto, na época, foi grande, ainda que hoje o filme pareça comportado demais.
Com o filme Acorrentados, vem a primeira indicação ao Oscar. A estatueta chegaria pouco depois, pelo seu papel em UMA VOZ NAS SOMBRAS, de 1963, que marcou época. Um ator à altura de seus grandes filmes. Em 2002, a Academia Cinematográfica de Hollywood lhe conferiu o Prêmio Honorífico por sua obra, sempre representando a indústria do cinema com dignidade, estilo e inteligência. Possui uma estrela na Calçada da Fama, localizada em Hollywood Boulevard. Poitier foi embaixador das Bahamas no Japão e na Unesco, além de ter recebido em 2009, das mãos do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a Medalha Presidencial da Liberdade, a condecoração civil mais importante do país.
CLIC no endereço abaixo para assistir ao TRAILER e entender o contexto histórico da época do filme ADIVINHE QUEM VEM PARA JANTAR. É um filme que funciona apenas quando você tem ideia do contexto histórico: Em 1967, 17 estados americanos ainda proibiam o "casamento inter-racial''. Spencer Tracy e Katherine Hepburn (que foi premiada com o OSCAR por sua atuação) estão inesquecíveis como os atônitos pais, neste filme de 1967 que é um macro sobre as questões de miscigenação racial no casamento.
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