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quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Escritor Fabrício Carpinejar defende Pernambuco de xenofobia de Alexandre Frota


O escritor Fabricio Carpinejar publicou nesta quinta-feira, 27, texto em exalta as qualidade do estado de Pernambuco, após a demonstração de xenofobia do ex-ator pornô e deputado eleito Alexandre Frota contra o estado nordestino.

O advogado e deputado federal eleito por Pernambuco Tulio Gadelha (PDT) ingressou com uma ação judicial contra Frota. A ação foi motivada por uma postagem de Frota durante uma discussão com internautas no Twitter, onde o ex-ator teria respondido de forma pejorativa a um comentário com a expressão "só pode ser de Pernambuco".

Leia, abaixo, o texto na íntegra, publicado no instagram do escritor:

SÓ PODIA SER MESMO DE PERNAMBUCO

Fabrício Carpinejar

Só podia ser de Pernambuco a poesia geométrica de João Cabral, o teatro da vida real, a morte e vida severina.

Só podia ser de Pernambuco o frevo, o maracatu, o Galo da Madrugada, a alegria ecumênica. Só podia ser de Pernambuco os bonecos de Olinda, o olhar oceânico do alto das igrejas e dos muros brancos. Só podia ser de Pernambuco a literatura de cordel, o raciocínio rápido do repente, a magia dos violeiros. Só podia ser de Pernambuco Manuel Bandeira e a Estrela da Manhã. Só podia ser de Pernambuco Nelson Rodrigues e o seu carinho pelos vira-latas mancos.

Só podia ser de Pernambuco a infância misteriosa de Clarice Lispector, a descoberta da leitura. Só podia ser de Pernambuco Chico Science e o movimento manguebeat. Só podia ser de Pernambuco a cerâmica de Francisco Brennand e seus 1001 dias iluminados de esculturas e azulejos.

Só podia ser de Pernambuco o modernismo de Cícero Dias, que já dizia em sua pintura: "Eu vi o mundo... ele começava no Recife". Só podia ser de Pernambuco a pedagogia de Paulo Freire (do oprimido, da libertação, do compromisso, da autonomia e da solidariedade). Só podia ser de Pernambuco o cinema inovador de Kleber Mendonça Filho ("O Som ao Redor" e "Aquarius") e de Cláudio Assis ("Amarelo Manga" e "Febre do Rato").

Só podia ser de Pernambuco a irreverência contagiante de Chacrinha.

Só podia ser de Pernambuco a sociologia de Gilberto Freyre, profeta do multiculturalismo. Só podia ser de Pernambuco Vavá, o peito de aço, bicampeão mundial de futebol.

Só podia ser de Pernambuco Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Só podia ser de Pernambuco o abolicionista Joaquim Nabuco.

Tem razão. Só podia ser mesmo de Pernambuco.

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