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segunda-feira, 26 de junho de 2023

Fome no Brasil é maior em famílias chefiadas por mulheres negras, aponta estudo

BRASIL 247 - A fome no Brasil afeta de forma desproporcional os lares liderados por pessoas de diferentes grupos raciais, com uma situação ainda mais severa para os domicílios encabeçados por mulheres negras. O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (Vigisan), divulgado nesta segunda-feira (26), traz dados alarmantes. O estudo indica que aproximadamente 1 em cada 5 famílias lideradas por pessoas autodeclaradas negras ou pardas (17% e 20,6%, respectivamente) enfrentam a fome, em contraste com 1 em cada 10 famílias lideradas por pessoas brancas (10,6%). Quando se trata de lares liderados por mulheres negras, a porcentagem daqueles que enfrentam insegurança alimentar grave, ou seja, passam fome, chega a 22%, comparado a 13,5% dos lares chefiados por mulheres brancas, informa a Folha de S. Paulo.


Segundo a nutricionista Sandra Chaves, professora da Universidade Federal da Bahia e coordenadora da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), "a fome é maior nos domicílios chefiados por mulheres e por pessoas negras" quando se analisa a segurança alimentar sob a perspectiva de gênero e raça.


Dessa vez, os pesquisadores adotaram uma abordagem interseccional, considerando como diferentes formas de opressão se somam e afetam as pessoas. O levantamento revelou que 33 milhões de pessoas sofriam de fome no país. A pesquisa foi conduzida em 12.745 domicílios localizados em 577 municípios brasileiros, abrangendo áreas urbanas e rurais das cinco macrorregiões do Brasil. Os dados foram coletados pelo Instituto Vox Populi entre novembro de 2021 e abril de 2022, com apoio de organizações como Ação da Cidadania, ActionAid, Ford Foundation, Fundação Friedrich Ebert Brasil, Ibirapitanga, Oxfam Brasil e Sesc São Paulo. Os participantes responderam a perguntas sobre o acesso a alimentos nos três meses anteriores à realização da pesquisa.


Os resultados revelaram ainda que níveis mais elevados de escolaridade não são suficientes para superar as desigualdades relacionadas à raça e gênero e garantir a segurança alimentar nos lares liderados por mulheres negras. Mesmo com oito anos ou mais de estudo, um terço delas (33%) enfrenta insegurança alimentar moderada ou grave. Entre homens negros, o índice é de 21,3%, enquanto entre mulheres brancas é de 17,8% e entre homens brancos é de 9,8%.


Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2021, o rendimento médio anual das mulheres foi cerca de 30% menor do que o dos homens. Em relação à diferença racial, um levantamento do mesmo instituto no ano seguinte apontou que o rendimento mensal médio de pessoas pardas ou negras é cerca de 60% inferior ao das pessoas brancas.


A historiadora e pesquisadora da fome no Brasil, Adriana Salay argumenta que o aumento da fome no país está relacionado ao enfraquecimento de políticas como o Bolsa Família e o Programa de Aquisição de Alimentos, que comprava alimentos produzidos pela agricultura familiar e os destinava gratuitamente a pessoas em situação de insegurança alimentar. No entanto, ela acredita que a solução para esse problema vai além do restabelecimento dessas iniciativas. "Precisamos avançar em políticas estruturais de combate à desigualdade para que um futuro governo não possa desmantelar facilmente políticas públicas e agravar drasticamente a fome que enfrentamos hoje".

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