O comerciante Clóvis Perrut Mantilla, que esqueceu a filha de dez meses dentro do carro, provocando a morte dela, em Volta Redonda, na semana passada, escreveu uma carta emocionada em seu perfil no Facebook, às 20h do último sábado (10). O pai demonstra arrependimento e diz que, em breve, a mulher e ele vão reencontrar Manuella, em referência à morte.
Clóvis foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Ele pagou fiança de R$ 12.644 na Delegacia de Volta Redonda (93ª DP) e responde pelo crime em liberdade. Manuella ficou trancada dentro do carro por cerca de quatro horas, enquanto o pai almoçava com amigos em outro bairro da cidade.
Abaixo, veja a íntegra da carta escrita por Clóvis:
“Senhor, se possível, me leva para junto de ti e devolve a minha anjinha de volta para essa terra. Mas se essa não for a sua vontade, eu sei que não posso falar mais com ela, só o senhor pode me ouvir. Então, por favor, leia isso para ela: meu anjinho, minha Manuzinha, você é o meu coração e ele morreu por minha culpa, mas eu nunca quis te causar nenhum mal. Enquanto eu levava seu corpinho ao hospital, eu pedi ao papai do céu para me levar no seu lugar. Mas ele te escolheu, porque você será um anjo mais belo e puro e esse mundo terrível não é digno de você. Espere o papai aí. Em breve estaremos juntos. Só não sei o dia, mas eu, a mamãe e o Juan iremos nos reencontrar com você no céu. Os dez meses e dez dias que você esteve conosco foram os mais belos, felizes e maravilhosos de nossas vidas. Sempre vou te amar, meu anjinho. Até daqui a pouco. Papai”.
A carta, ao lado de uma foto de Manuella com a mãe, sensibilizou os internautas. Até as 8h da manhã desta segunda-feira (12), 2.606 pessoas haviam compartilhado o texto. Outras 199 comentaram, muitas com palavras de apoio ao pai, ressaltando que o comerciante não esqueceu a filha dentro do carro de propósito.
Os pais que esquecem filhos dentro de carros, como o comerciante de Volta Redonda, não costumam ser punidos pela Justiça. Segundo o desembargador Antônio Carlos Malheiros, os juízes entendem que a dor de um pai que perde um filho nessas circunstâncias já serve como castigo.
— Ele deverá ser processado, mas provavelmente não será denunciado. E mesmo se for, provavelmente será absolvido. Diante da dor, da tristeza, do horror passado pelo próprio autor do delito, ele é absolvido. Isso está no Código Penal.
De acordo com o desembargador, que é coordenador da Vara da Infância e Juventude de São Paulo, tal procedimento deve acontecer com Clóvis Perrut Mantilla, que perdeu a filha em Volta Redonda após deixá-la cerca de cinco horas dentro do carro. O veículo ficou estacionado na rua das Margaridas das 13h às 18h.
À polícia, Mantilla explicou que não estava acostumado a levar a menina para as creches. A criança ficava em uma unidade pela manhã e seguia para outra creche à tarde. Segundo a polícia, quem levava e pegava Manuella eram dois funcionários da família, mas ambos estavam ocupados na quinta-feira e a responsabilidade ficou com o pai.
No caminho, Mantilla recebeu a ligação de um amigo com quem tratava da compra de um carro. Ele foi ao encontro do rapaz e esqueceu a criança dentro do carro, no estacionamento. Clóvis chegou ao local por volta das 13h e só às 17h30, quando recebeu uma ligação da mulher, ele se deu conta de que tinha deixado a filha no carro.
Como estava em outro bairro, ele precisou pegar carona em uma moto e tomar um táxi para chegar ao local, por volta das 18h30. No estacionamento, um amigo dele já havia quebrado o vidro do carro para socorrer a menina. Foi o próprio pai quem levou a criança para o hospital, mas, ao chegar à unidade de saúde, ela já estava morta.
R7