Por Altamir Pinheiro
O quadro resumido de uma obra cinematográfica do porte do filme CONTÁGIO, lançado em 2011, detalha um tremendo drama de suspense e ficção cientifica que informa a respeito de uma paranoia que segue o rápido progresso de um vírus letal, transmissível pelo ar, que mata em poucos dias. Como a epidemia se espalha rapidamente, a comunidade médica mundial inicia uma corrida para encontrar a cura e controlar o pânico que se espalha mais rápido do que o próprio vírus. Ao mesmo tempo, pessoas comuns lutam para sobreviver em uma sociedade que está desmoronando. O progresso exponencial de um vírus transmissível pelo ar que mata em poucos dias assusta milhares de pessoas. Enquanto o pânico se espalha, as pessoas lutam para sobreviver e buscam pela cura numa sociedade tomada pelo desespero. Nada desse filme intitulado CONTÁGIO é ficção científica. A propósito, qualquer semelhança com a realidade dos dias de hoje, NÃO é mera coincidência...
O excelente crítico de cinema Lucas Salgado, nos relatas fatos pitorescos nesse filme de mediano pra ruim quando nos faz uma advertência que a primeira coisa a se ressaltar com relação à película CONTÁGIO é o sensacional elenco que o diretor Steven Soderbergh conseguiu reunir. Matt Damon, Kate Winslet, Laurence Fishburne, Jude Law, Marion Cotillard, Gwyneth Paltrow e Bryan Cranston são alguns dos nomes presentes na produção. Só aí estão três vencedoras do Oscar de melhor atriz e outros dos atores mais badalados da atualidade. Já a segunda coisa a se ressaltar com relação ao filme não surge em forma de afirmação, mas sim através de uma pergunta: como o diretor conseguiu fazer um filme tão ordinário com tantos bons nomes na equipe?!?!?!
Para o bom discernimento do leitor deste texto ou do espectador do filme. nada em Contágio foge do padrão "FILMES SOBRE EPIDEMIAS", não conseguindo em momento algum deixar o expectador interessado com o que está acontecendo. Para piorar tudo, ainda oferece um final péssimo em que busca explicar a razão pela qual aconteceu tal situação. É o que podemos chamar de um filme de suspense apenas para bulir com o emocional tristonho... No sentido crítico propriamente dito, trata-se de uma obra rasa e assustadoramente fria. Não há emoção alguma e é difícil acreditar que alguém irá se envolver com os dramas dos personagens. Todas as situações são construídas em cima de clichês e de personagens desprovidos de autenticidade. Quem se sai melhor no elenco é Jude Law, interpretando uma espécie de blogueiro radical que tenta fazer barulho no meio da calamidade pública.
Mais uma vez somos socorridos pelo ferrenho crítico de cinema Lucas Salgado, quando afirma que o cineasta Soderbergh já realizou bons trabalhos na sétima arte, como em Sexo, Mentiras & Videotape e Traffic, mas é inegável também que é um dos diretores mais inconstantes de Hollywood, tendo deixado muito a desejar em obras como Full Frontal, Solaris e Treze Homens e um Novo Segredo. Pouco antes de lançar CONTÁGIO, muito se falou de que o cineasta iria se aposentar em breve. Ele desmentiu, mas reconheceu que deverá ficar um tempo afastado das telonas. Tendo em visto o último trabalho, parece mesmo importante que tire um tempo para refletir sobre a carreira ou sobre o que ainda tem a dizer.
Contagion (no original) possui 105 minutos, mas é provável que a pessoa que assista ao filme pense que este tem mais de duas horas. Tudo é muito lento e tudo é sem emoção, e a falta de um clímax colabora para passar a ideia de que a história não se desenvolve. Outro grave problema é a fotografia sem personalidade. Steven Soderbergh poderia, inclusive, dividir a culpa pelo fracasso do longa com seu diretor de fotografia, mas isso acaba sendo difícil pois é o próprio cineasta que realiza a função. O filme é nada mais que um grande desperdício de talento, mas que no final deixa algo positivo: a certeza de que em poucos anos será totalmente esquecido pelo público, o que não condiz com realidade de hoje, quase 10 anos depois do filme ser produzido, pois o coronavírus conseguiu ressuscitá-lo!!!
Agora, não se há de negar que o diretor do filme Contágio anteviu o surto do Covid-19. Não é à toa que ficou interessante assistir ou até mesmo revê-lo, pois muitas situações agora fazem mais sentido que no ano que ele foi lançado, pois naquela época de seu lançamento, mesmo que ainda houvesse lembranças recentes do H1N1 de 2009 ninguém deu muita bola pro fato, porém, hoje, o buraco é mais embaixo. O filme retrata algumas situações muito semelhante aos acontecimentos atuais, porém tem uma sequência lenta (apesar de não ser um filme tão longo) com muitos personagens (ótimos atores), sem conseguir trabalhar cada um de forma satisfatória. É oportuno afirmar que CONTÁGIO é como um documentário, não um dramalhão barato. Fica aqui um palpite: o filme pode não ser espetacular, mas não deixa de ser um entretenimento reflexivo. O final apesar de simples gera uma grande meditação sobre o que nós mesmos causamos ao ambiente em que vivemos.
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