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domingo, 31 de março de 2019

Dia 31 de março, nada a comemorar


Conheci Dermi Azevedo brevemente na Folha de S.Paulo, quando trabalhamos por lá no final dos anos 1980. Era discreto, afável, cuidadoso com seu trabalho e relações pessoais. Quem o via à distância não desconfiava o drama que marcava e ainda marca sua vida.

Presos pelos militares do golpe de 1964, ele, Darcy, sua esposa, e seu filho, Carlos Alexandre, foram barbaramente torturados pelo famigerado delegado Fleury e os milicos.

Isso mesmo: torturaram um bebê de 1 ano e 8 meses, que era a idade de Carlos Alexandre no momento da prisão, em 1974 - em fevereiro de 2013, aos 40 anos, os traumas das torturas gritavam de maneira insuportável aos ouvidos e coração de Carlos e ele suicidou-se.

O regime militar de 1964 tem em seu panteão máximo dois heróis máximos diante dos quais se dobram Bolsonaro e a atual cúpula das Forças Armadas: Carlos Alberto Brilhante Ustra e Sérgio Paranhos Fleury.

Sob o comando desses heróis, militares, policiais civis e militares e "cidadãos de bem" torturaram crianças, estupraram e torturaram mulheres, torturaram e assassinaram homens, alguns meninos, outros maduros, outros velhos. Quantos conheceram o inferno nas mãos dos militares e seu aparato? Milhares.

A celebração que Bolsonaro e a atual cúpula militar fazem do golpe de 1964 é o festim macabro das torturas, estupros, assassinatos que cometeram e pelos quais são historicamente responsáveis.

Aqui não há desavisados, como houve nas últimas eleições. Quem comemora o golpe desumanizou-se e festeja a tortura de crianças, mulheres e homens sem a desculpa do desconhecimento.

A postura diante de 1964 é um divisor de águas na sociedade brasileira.

Uma observação final: os que porventura apresentam-se com a conversa de "evento complexo", condenação à "polarização" e posam de "democratas" são cúmplices dos milicos e Bolsonaro.

A foto que ilustra este artigo é de Dermi, Darcy e o pequeno Carlos, no aniversário de 3 anos do menino -nos olhos dos três está a dor da perversidade dos milicos e seus capatazes, que agora celebram sua "obra" como um escárnio a todo o povo brasileiro. O crime do casal à época: realizar uma pesquisa e escrever um livro sobre Educação Moral e Cívica por encomenda do Conselho Mundial das Igrejas e por Dermi ser da equipe de assessores pastorais de dom Paulo Evaristo Arns.

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