Por Altamir Pinheiro
Tirante Anthony Steffen o nosso Django nacional, Raul Santos Seixas, sempre será o nosso cawboy brasileiro. na verdade, foi o único cantor do Brasil que teve competência pra fazer uma musica country de verdade em português. Ei-la:
Mamãe, não quero ser prefeito
Pode ser que eu seja eleito
E alguém pode querer me assassinar
Eu não preciso ler jornais
Mentir sozinho eu sou capaz
Não quero ir de encontro ao azar
Eu não sou besta pra tirar onda de herói
Sou vacinado, eu sou cawboy
Cawboy fora da lei
Durango Kid só existe no gibi
E quem quiser que fique aqui
E entrar pra história e com vocês...
Quem neste mundão de my god é cinqüentão, curtiu adoidado o mensageiro ou PROFETA DO APOCALIPSE no final de uma era na saudosa década de 70/80 do Século passado. Quem viajou no TREM DAS SETE sabe muito bem do que está se falando... RAUL SEIXAS era um poeta, místico e filosófico. Para ele o fundamento da verdadeira SOCIEDADE ALTERNATIVA, consistia em jamais viver de acordo com a ideologia daqueles que venderam suas vidas para si mesmo ao pequeno preço de serem apenas eles pelo resto de suas vidas como está bem filosofada na música OURO DE TOLO. Raul era muito talento em uma só mente. ele sempre esteve à frente do nosso tempo. vão se passar 10 mil anos e não aparece outro. Em que pese a gente ter convivido com os talentos de Renato Russo, Cazuza, Belchior, Elis, Clara Nunes, Cássia Eller, Elvis e tantos outros...
Raul Seixas foi o nome mais importante do rock brasileiro e teve forte influência para os roqueiros que surgiram depois dele. Natural de Salvador, passou a adolescência ouvindo muito rock'n'roll, particularmente Elvis Presley, Little Richard, Jerry Lee Lewis e Chuck Berry, e blues dos negros do sul dos Estados Unidos, sem deixar de lado o BAIÃO DE LUIZ GONZAGA e repentistas nordestinos. Aliás, por ser bastante extrovertido, ele costumava dizer que, em um trocadilho bastante interessante, o Maluco Beleza considerava Luiz Gonzaga o REI DO ROCK, e Elvis Presley, o REI DO BAIÃO.
Embalado por esse caldeirão rítmico e seduzido pelos ideais alternativos da geração do pós-guerra e pelo misticismo, deu asas a sua ANÁRQUICA GUITARRA e tornou-se o ídolo de diversas gerações, que incluem desde jovens rebeldes da classe média e do subúrbio das grandes cidades, até empregadas domésticas, caminhoneiros, ruralistas, empresários e até padres. Alguns de seus maiores sucessos são Metamorfose Ambulante, Trem das Sete, Como Vovô Já Dizia, Gita, medo da chuva, Al Capone, eu nasci há dez mil anos atrás e a atualizadíssima, ALUGA-SE. Eis algumas estrofes:
A solução pro nosso povo
Eu vou dá
Negócio bom assim
Ninguém nunca viu
Tá tudo pronto aqui
É só vim pegar
A solução é alugar o Brasil!!!
Nós não vamo pagar nada
Nós não vamo pagar nada
É tudo free!!!
Os estrangeiros
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar dele
Paga o nosso mingau...
Nós não vamo pagar nada
Nós não vamo pagar nada
É tudo free!!!
E O TOCA RAUL, HEIN!!! Ninguém sabe como começou, quem foi o primeiro. No meio de um show de rock, alguém gritou e isso virou um bordão, sempre repetido em shows pelo Brasil afora. De tão repetido, o Toca Raul!!! Acabou virando em 2007 tema de uma música do excelente cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro. Ei-la, apenas em um verso:
“Mal eu subo no palco
Um mala um maluco já grita de lá
-TOCA RAUL!!!
A vontade que me dá é de mandar
O cara tomar naquele lugar
Mas aí eu paro penso e reflito
como é poderoso esse RAULZITO
Puxa vida esse cara é mesmo um mito”.
Por fim, temos a figura de Paulo Coelho, o melhor parceiro de Raul Seixas entre 1973 e 1978, numa relação conflitante - “ÉRAMOS AMIGOS E INIMIGOS ÍNTIMOS”, disse o escritor numa entrevista em 2007. O reencontro de Paulo Coelho com Raul Seixas se deu numa das últimas apresentações do roqueiro, quatro meses antes de sua morte, em um show no Canecão, no Rio de Janeiro. O escritor, que estava na plateia, subiu ao palco e cantou com Raul o refrão "Viva, viva, a Sociedade Alternativa". Paulo Coelho costuma dizer que não há como explicar o mito em torno do cantor: “O RAUL É UMA LENDA, E LENDA NÃO SE EXPLICA”...
O VERDADEIRO SIGNIFICADO DE ALGUMAS MÚSICAS DO MALUCO BELEZA:
ResponderExcluir---MEDO DA CHUVA - além de ser uma das mais belas e poéticas músicas de Raul, trata da escravidão que pode ser uma vida a dois quando se tem uma esposa possessiva e ditatorial. "é pena, que você pense que sou seu escravo... dizendo que sou seu marido e não posso partir...";
---OURO DE TOLO - Crítica severa à sociedade hipócrita, capitalista, materialista e cheia de si. A qual Raul fazia questão de ridicularizar. Nota-se grande semelhança com o estilo folk de Bob Dylan;
--- PARANÓIA - Fala sobre masturbação e o medo de estar cometendo um pecado. "Minha mãe me disse a tempo atrás aonde você for Deus vai atrás... Deus vê sempre tudo o que você faz... Vacilava sempre a ficar nu lá no chuveiro com vergonha... com vergonha de saber que tinha alguém ali comigo vendo fazer tudo o que se faz dentro de um banheiro";
--- AS AVENTURAS DE RAUL SEIXAS NA CIDADE DE THOR - Raul critica o status-quo e fala sobre a necessidade de fazer uma "aliança estratégica" com o sistema (o Monstro Sist) para poder enfrentá-lo. "QUANDO SE QUER ENTRAR NUM BURACO DE RATO DE RATO VOCÊ TEM QUE TRANSAR";
--- QUANDO ACABAR O MALUCO SOU EU - sobre como o mundo pode considerar normal as pessoas se matarem, fazerem tramoias políticas, traírem a si mesmas, guerrearem, culminarem no apocalipse, aceitarem a censura e considerar insanidade ser simplesmente excêntrico e afrontar o sistema;
--- A EXPLICAÇÃO DA MÚSICA GITA - Essa música foi inspirada do livro BHAGAVAD GITA, um livro indiano que na verdade, ninguém sabe quem realmente escreveu, é um dos livros mais antigo da humanidade, como a Bíblia. Bhagavad Gita é para os indianos como é a Bíblia para os cristãos. Esse livro fala da história da revelação do Todo, do absoluto, do que é a vida, do que é DEUS, o que seria a revelação da grande resposta. Quando a música Gita, do RAUL SEIXAS, diz: EU SOU ISSO, EU SOU AQUILO, não está falando do Raul Seixas, de maneira nenhuma, está falando de cada um de nós. Ou seja, do nosso espírito, cada um é a sua própria estrela, luz ou treva, céu ou abismo.
Eu SOU, eu FUI, eu VOU. Eu sou o seu sacrifício, a placa de contra mão...
O sangue no olhar do vampiro...
E as juras de maldição...
Eu sou a vela que ascende...
Eu sou a luz que se apaga...
Eu sou à beira do abismo...
Eu sou o Tudo e o Nada.