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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Editorial JC - Pirâmides da má-fé

O milagre do investimento baixo com grande retorno em pouco tempo é a promessa de esquemas milionários que caíram no gosto dos brasileiros. A arapuca atrai, na maioria, pessoas inocentes que precisam de mais recursos do que possuem, ou aspirantes a espertos, no país em que a esperteza conta com a impunidade para seguir dando péssimos exemplos. 

Em edição recente, mostramos a partir de simulações matemáticas como o prejuízo é certo para 70% dos "investidores". O professor Roberto Ferreira, da Faculdade Boa Viagem, lembrou que a progressão geométrica em que se baseia o sistema antigamente era feita por cartas de recrutamento. Com a internet, a facilidade de multiplicação da ilusão compartilhada aumentou. 

Sob a fachada de empresas de marketing multinível, de atuação legal, as chamadas pirâmides financeiras estão na mira da Justiça, e são assunto do Congresso Nacional. Algumas foram suspensas, no Acre e em Goiás, e outra é investigada no Rio Grande do Norte. Um casal preso no comando de uma delas amealhou a bagatela de R$ 107 milhões em apenas quatro meses. Mas como revelou a reportagem de Giovanne Sandes que publicamos no último dia 10, há versões não virtuais das pirâmides que exploram ainda mais o cidadão em situação precária, no interior do Nordeste.

Ocorrências desse tipo foram registradas no Pará, no Maranhão, no Ceará e em Pernambuco. Falsos consórcios de geladeiras, fogões e motocicletas captam dinheiro para as pirâmides, numa modalidade de extorsão que causou prejuízos estimados de pelo menos R$ 50 milhões - em locais onde a escassez de condições materiais básicas deveria servir de constrangimento moral aos golpistas. No entanto, ao contrário, parece que a necessidade das potenciais vítimas atiça a voracidade deles. Ainda na década de 1970, a Comissão Federal de Comércio nos Estados Unidos estabeleceu regras para a transação em rede que despontava, a fim de evitar golpes contra a economia popular.

O país presenciou, nos anos 1920, a Pirâmide de Ponzi, um italiano que fez fortuna e ganhou a simpatia de adeptos que, assim como hoje, quase um século mais tarde, vendem tudo o que tem no Brasil para entrar na corrente que oferece remuneração fácil sem explicação, a não ser a troca de recrutamento por ganhos vultosos. Os países emergentes, aliás, são apontados como alvos preferenciais desses esquemas de má-fé.

Na Albânia, quase a metade do PIB nacional, ou quase US$ 1 bilhão, foi a conta da perda dos que apostaram nos esquemas na década de 1990. Em 1998, a mesma comissão norte-americana definiu o esquema das pirâmides como puro e simples golpe. A proliferação do trambique no Brasil requer das autoridades a apuração rigorosa das empresas envolvidas, assim como a punição dos responsáveis pelos crimes cometidos. Como se não bastasse a corrupção que subtrai a poupança pública, a exploração da credulidade do povo não pode continuar em campo livre a assaltar os desavisados.
JC

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